terça-feira, 16 de março de 2010

Artigo em ZERO HORA

ZERO HORA, jornal de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, publica diariamente, ao lado dos seus editoriais, três textos escritos por leitores que desejam ver suas idéias difundidas. Envio sempre artigos sobre educação, mas, devido ao grande número de textos que recebem, nem sempre podem publicar os que lhes mando. De qualquer modo, numa freqência mensal, tenho pelo menos um deles publicado. Hoje, saiu um sobre a ideia do Ministério da Educação que vai sugerir que não se reprovem alunos das três primeiras séries do ensino fundamental. Penso que, no ensino fundamental, não deveria haver nem aprovação nem reprovação, mas ensino e aprendizagem e avaliação diagnóstica participativa. No ensino superior e no ensino profissionalizante pode haver necessidade de fazer trabalhos extras com alguns alunos e, até, reprová-los porque há obrigação de profissionalizá-los. No ensino fundamental, o mais importante é o domínio da leitura e da escrita e uma firme alfabetização, a vivência de valores, o desenvolvimento de habilidades, o crescimento do compromisso social e a apropriação de conhecimentos sobre a natureza e sobre a sociedade, não sendo definitivo quais sejam.
Incluo o texto aqui. Quem quiser lê-lo no jornal, busque em Zero Hora.



REPROVAR CRIANÇAS NÃO É LEGAL!
Danilo Gandin*

O Ministério da Educação está pensando em incluir, nas diretrizes para o ensino fundamental, a sugestão de que as crianças não sejam reprovadas nos três primeiros anos do seu ensino fundamental. Muitas pessoas vão lamentar; os resultados, porém, serão grandes.
Esta proposta faz parte dos ventos promissores que estão oxigenando as escolas por todo o Brasil. Em quase todos os Estados surgem relatos de novas práticas capazes de serem alavancas transformadoras.
Muitas destas novidades são tecnológicas e não vão, rigorosamente, acrescentar algum bem significativo para os alunos, tanto da rede pública como da escola privada. Devem ser saudadas, pois incorporam processos culturais novos; mas elas não têm força transformadora para o processo escolar: convivem com o mesmo currículo formal e com outras dificuldades importantes do processo educativo.
Muitas outras novidades, porém, embora ainda restritas quanto à prática, abrem perspectivas que precisam ser encaradas com alegria e profundidade por educadores, pelos estudiosos da escola e pela sociedade em geral. Quase todas tocam nas quatro maiores cadeias atadas ao pulso das escolas: o conteúdo preestabelecido – formal e limitado; a nota – símbolo de uma avaliação que classifica crianças curiosas e cheias de esperança como se fossem laranjas já colhidas; o professor falando o tempo todo – limitação da criatividade e da autonomia; a seriação e a disciplinaridade – herdadas de um fazer industrial, ele mesmo já em crise. São mudanças como o estudo de temas ligados à natureza e à sociedade, de forma transdisciplinar, em vez de conteúdos de livros didáticos; como implantação de processos de avaliação participativa, autônoma e orientada para o crescimento; como diminuição do valor de séries...
A proposta do Ministério dá força à avaliação diagnóstica, já realizada em algumas escolas. É a avaliação que se faz com vistas ao futuro: há um referencial que não é um lugar de chegada, mas um horizonte; ele indica a direção em que queremos ir; a avaliação é centrada no que ainda pode mudar para que se alcance o máximo na caminhada; é necessário, para que ela possa ser realizada na escola, que professores se aproximem do fazer pedagógico com uma proposta de valores, capacidades e conhecimentos que devam servir de ideal para aquela faixa etária de alunos. Imagine alguém que planta batatas: faz a avaliação de suas roças para verificar se as plantas estão bem, se há promessas de boa produção... Adota medidas para que a produção se aproxime do ideal, mas não tem meios para fazer as plantas serem todas iguais nem quer isto. Imagine o trabalho de um médico: ele não “dá” notas, ele avalia para compreender e para definir sua ação futura.
A avaliação classificatória é aquela que se faz sobre o passado; colhidas as batatas, o agricultor as separa em pequenas, médias e grandes; elas já não podem crescer, quer dizer, já não mudam; sua classificação serve para que sejam vendidas de maneira mais inteligente, tirando o maior lucro possível.
Crianças são futuro, são esperança! É necessário estar com elas no seu processo de busca de identidade e de instrumentos para participar na sociedade. Ajudá-las no processo de sua avaliação é nosso dever e nossa realização!
* Professor, escritor e conferencista.

Um comentário:

  1. Cara, essa coisa de não rodar é a coisa mais absurda que já vi!!! Tu provavelmente é um cara que ainda não dá aula e vem com esses discursinhos academicistas e puramente teóricos de COMO aplicar. O Brasil já tem um nível muito grande de analfabetos funcionais. Se inventarem essa porra de não rodarem as crianças que NÃO SABEM LER NEM ESCREVER, vão chegarem na quinta-série sem o mínimo de conhecimentos e aí sim, vão rodar sem parar e até mesmo abandonar a escola por se acharem burras.
    É issoq que tu queres? Presta mais atenção nas tuas teorias! Quero ver tu entrar numa sala de aula de periferia e dar a "tal aula" que deverias dar!!!
    Fica a provocação!!!

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