terça-feira, 18 de maio de 2010

OS DESASTRES DA CONSCIÊNCIA MÍTICA


Mesmo que se discorde de alguns pontos de sua teoria, é obrigatório reconhecer Freud como uma das maiores figuras do final do século 19 e começo do 20. A maior das conquistas do seu trabalho é o desenvolvimento do conceito de inconsciente, a teorização de seus fundamentos e, sobretudo, das consequências práticas que isto desencadeia.

O inconsciente conduz o mundo. A ideia de cotidiano liga-se a de inconsciente. O ser humano age mais por inércia do que por pensamentos lúcidos e bem desenvolvidos. Isto é necessário para poupar energia, mas é terrivelmente prejudicial quando assim são resolvidas questões importantes, como decisões profissionais, éticas, religiosas e políticas.

Paulo Freire, sem falar em inconsciente, constrói algo muito prático, aplicado, de maneira especial, à educação. Ele divide a consciência em três níveis e nos mostra que podemos agir com consciência mítica, ingênua ou crítica. É claro, desde logo, que consciência crítica não é característica daquele que vai criticar tudo o que lhe aparece. Também é importante ressaltar que, na mesma pessoa, convivem os três níveis de consciência, dificilmente existindo alguém que viva puramente de uma ou de outra.

A consciência mítica é aquela que se caracteriza por crer que tudo na vida se resolve por entidades extramundanas. A responsabilidade pessoal ou grupal não existe, já que tudo o que acontece tem origem nos astros, nos demônios, nos deuses ou em outros seres de um mundo diferente. Obviamente, os problemas não precisam ser encarados porque algum ser mítico os resolverá.

A consciência ingênua, de forma parecida, supõe que não é de sua responsabilidade encaminhar sua vida ou resolver seus problemas. Mas dá um passo adiante: crê em líderes humanos que vão salvar o mundo. A consciência mítica sempre está incluída em algum tipo de massa e age dentro desta massa porque há alguns líderes que arrastam.

A consciência crítica é aquela que busca, sempre, conhecer a natureza e os processos de relação humana com as culturas que eles criam. Busca firmar-se em teoria, isto é, em conhecimento. Não lhe repugnam a arte, a crença, a filosofia, a história, mas embasa sempre seu agir no resultado do confronto entre o que espera alcançar e a realidade que a envolve, distinguindo o exequível do impossível, o que pode ser mudado do que deve ser aceito, pelo menos por um tempo.

A consciência crítica pode ser desenvolvida. Quem é autoridade pode ajudar nisto. Quando as pessoas têm de enfrentar os problemas e descobrir as necessidades, quase sempre desenvolvem consciência crítica. O processo educativo é fundamental: sempre que ele se baseia em respostas prontas e em decorar mais do que em pensar, a consciência se limita e tende a ser mítica ou ingênua; sempre que os processos educativos são problematizadores, a consciência crítica se estabelece e se desenvolve.

Para professores, professoras e autoridades educacionais isto é de uma importância extrema. Se, na escola, dermos importância ao planejamento do próprio grupo, incluindo alunos e pais, em lugar de determinações de como fazer, estaremos dando espaço ao desenvolvimento da consciência, especialmente da consciência crítica, superando a prática embasada no inconsciente.

Um comentário:

  1. Concordo, plenamente!!!! Nós, educadores, de forma geral, devendo (co)reconhecer os meios para a aprendizagem significativa, representada, também, na consciência crítica, não podemos negar a oportunidade de interação e aprendizado a nossos alunos e a todos os envolvidos...aprender a participar e opinar. Assim, consequentemente, estaremos difundindo o valor da participação e contribuição no planejamento escolar. Podemos considerar que é um aprendizado que se estenderá na vida em sociedade. É a tentativa de se construir uma sociedade mais consciente e participativa. Parabéns pelos artigos!!!

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