domingo, 26 de setembro de 2010

ENSINO FUNDAMENTAL E PREPARAÇÃO PARA O TRABALHO

Há um pensamento econômico por trás da maioria dos discursos sobre educação básica. Sempre se diz que só a educação impelirá o País para o desenvolvimento. Quase não se fala que o desenvolvimento de uma nação passa, sim, pela escola e que isto tem a ver com a contribuição no processo civilizatório global, através do qual o país será mais justo, mais participativo, com mais cidadania, com mais respeito e responsabilidade. Não há, também, a mínima menção de que um país investe mais em escola porque tem mais recursos; o que se diz é que basta ter escolas para produzir o desenvolvimento. Poucas vezes se fala que as crianças devem ir à escola porque há uma necessidade de interagir para educar-se e educar-se é um direito e um dever e não apenas um meio de desenvolvimento econômico. Claro que há uma dialética: o país que pode investir em educação aumentará sua riqueza mais depressa, se tiver outras condições necessárias.

Como resultado, pensa-se que as crianças devem ir à escola a fim de preparar-se para uma vida, provavelmente amarga e sofrida. Por isto, chegam a propor uma escola cheia de autoritarissmo para que se acostumem desde cedo ao que vão viver mais tarde. Isto fica ainda pior porque quem decide sobre os regramentos das escolas são pessoas de idade avançada que já não usufruem muitos dos prazeres da vida.

Por outro lado, convém ressaltar que nem deveria passar pela cabeça de alunos e de professores a preparação para o trabalho no ensino fundamental. É um momento de crescer, de viver plenamente a infância e a puberdade e, às vezes, parte da adolescência. Obviamente que uma escola livre de conteúdos pré-estabelecidos, geralmente livrescos e não necessários para todos, poderá – e deverá – estudar o trabalho e a profissionalização. Isto faz parte da educação necessária para os dias de hoje. Se os alunos saírem do ensino fundamental sabendo ler, escrever e fazer contas e com o máximo de conhecimento possível sobre a natureza e sobre a sociedade e, sobretudo, se souberem pensar, resumir, analisar, criar... e se forem responsáveis, livres, capazes de interagir com outros... teremos ajudado pessoas a serem capazes de preparar-se, com extraordinários resultados, para o mercado de trabalho. A profissionalização dar-se-á nas próprias empresas ou em cursos preparatórios, como os do Senac, do Senai, do Senar, os de pós-ensino médio e de outros muitos que já funcionam ou que devem ser criados para suprir necessidades urgentes e logo serem substituídos para satisfazer outras necessidades.

Em suma: o ensino básico, mais claramente o fundamental, não deve preparar para nada; deve ser um viver pleno; deve ajudar os alunos a aprenderem, a desenvolverem suas habilidades e a vivenciarem hierarquias de valores. Se quisermos, poderemos adotar o que propõe a Unesco que, embora um pouco abstrato, pode ser concretizado perfeitamente por um grupo de educadores que esqueçam o livro didático e pensem a educação como um processo e se organizem com um plano de médio prazo que comece por um Projeto Político-Pedagógico: “aprender a aprender, aprender a ser, aprender a fazer e aprender a conviver”. Claro que, com isto, estarão se preparando para a vida e para o trabalho, mas o estarão fazendo na vivência de sua idade, com todas as oportunidades que um ambiente especialmente preparado para isto pode oferecer nas 7.200 horas – longo tempo! – que é o tempo do ensino fundamental. Poderão, talvez, no ensino médio, ser introduzidas possibilidades de escolhas maiores, incluindo, até, em certos casos, a profissionalização.


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