São inúmeros os palpites sobre os motivos dos maus
resultados da educação brasileira. Os principais referem-se à falta de
dinheiro, a professores mal preparados e mal pagos, ao excesso de disciplinas,
às instalações deterioradas.
Espero que agora fique mais claro: a educação básica brasileira
vai mal por falta de ideias para a construção de um currículo e por falta de
planejamento.
Nosso Plano Decenal de Educação, para entrar em vigor em primeiro
de janeiro de 2011, é “aprovado” no final de 2013, após ser submetido a um
grande debate que nada tem a ver com planejamento. Que concepção de
planejamento têm nossos parlamentares e nossas “autoridades” educacionais?
Na verdade, não há plano. Um plano de médio ou de longo
prazo em qualquer campo social, precisa ter quatro partes muito claramente
definidas: a. um levantamento dos grandes problemas e desafios da realidade,
sem que isso se constitua num diagnóstico, permanecendo como a fala de um paciente
dizendo ao médico o que ele sente; b. um referencial, isto quer dizer, um
conjunto de ideias que deixem claro nosso querer e nossas fundamentações do que
queremos, frente aos desafios levantados; em duas dimensões: que sociedade
queremos ajudar a construir e como queremos que seja, idealmente, o nosso campo
de ação (no caso, a educação e a escola); c. um diagnóstico, cientificamente
construído, realizando uma comparação entre a prática e os resultados que
estamos obtendo com o que definimos em nosso referencial, definindo, assim, as necessidades
que aquele campo de ação tem, no momento; d. uma programação da prática para o
tempo do plano, definindo ações, rotinas, atitudes e regras para aquele período,
visando a transformar a realidade para torná-la mais próxima do ideal que para
ela traçamos. Ora, este “plano” não tem nada disto, resumindo-se a um conjunto
de desejos; ao terminar o tempo do plano farão uma avaliação e se alegrarão
porque algumas das “metas” foram, em parte, “realizadas” e se desculparão pelo
que não aconteceu. É como se um cidadão estabelecesse que, até 2020, tem a
“meta” de ser milionário e nem tivesse ideia sobre o que vai fazer e como vai
se comportar para que isto aconteça.
Muitos caminhos se abrem para quem sabe para onde quer ir;
não há saídas para quem se propõe caminhar sem rumo. Não há possibilidade de
construir um currículo cheio de realidade e de vida, como muitos pedem, sem um
conjunto de ideias que seja encantador.
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