terça-feira, 15 de julho de 2014

SEMPRE ÀS TERÇAS - Hoje é terça, 15 de julho de 2014


 

PLANO DE GESTÃO X PLANO POLÍTICO-SOCIAL

 

É fundamental compreender a diferença entre um plano político social e um administrativo: embora se possa falar de planejamento como gerador de processos com determinadas características comuns, na prática ele se exerce com características próprias em cada atividade humana. Exagerando um pouco, poderíamos dizer que planejamento corresponde à palavra ferramenta: embora a palavra englobe uma infinidade de objetos aos quais se pode aplicar a definição universal, cada ferramenta concreta realiza esta definição, mas é diferente de todas as outras. Uma enxada é ferramenta, mas é muito diferente de um martelo que também o é. Podemos alargar isto, falando em moinhos, espingardas, televisores, telas e pincéis de artistas que se aproximam mais de um pensar o planejamento como ferramenta.

            Por isto, devemos pensar de modo diferente os planos administrativos (ou de gestão, como preferimos dizer, hoje, nas entidades com fins além do seu próprio desenvolvimento) e os planos político-sociais.

Estes são planos do povo da entidade, daquelas pessoas que dela participam, sejam seus próprios funcionários ou pessoas por ela afetadas (há quem diga clientes); são planos que, embora administrados (coordenados) pela equipe diretiva, isto é, pelos gestores, devem ter suas ideias construídas por todo o povo. Fora raras ocasiões, explicitadas em cada caso, tratamos especialmente dos planos político-sociais. Mas é claro que planos de gestão serão mais eficazes se seguirem os mesmos modelos, técnicas e instrumentos dos planos político-sociais; a participação é que pode ser restrita a quem participa da gestão.

Aqueles são planos da equipe administrativa. Devem estar subordinados ao que consta nos planos político-sociais, pois a principal tarefa da gestão será fazer com que eles se executem; claro que estes planos de gestão conterão também aquelas práticas (ações, atitudes, regras e rotinas) que visem a manter em harmonia toda a entidade (embora inquieta, em busca do bom e do verdadeiro) e, sobretudo, para prover os meios de manutenção e crescimento da entidade.

 

            Por isto, toda a entidade tem necessidade de construir planos concatenados, em geral de médio e de curto prazo, de modo que os planos de gestão se construam e se realizem no rumo apontado pelos planos político-sociais. Nosso interesse, hoje, é maior pelos planos político-sociais, inclusive porque elaborar planos administrativos é mais fácil, que sua teorização é mais desenvolvida e os bons textos a respeito são numerosos. Mas, sem os consequentes planos de gestão, como planos setoriais dos planos político-sociais, haverá uma lacuna sensível e prejudicial. É, de fato, necessário superar a atual ideia de alguns teóricos e de políticos de que são suficientes planos administrativos para qualquer entidade, governamental ou não. Desta ideia está impregnada a corrente que se chamou (inadequadamente!) de Planejamento Estratégico. Sua origem vem do fato de que esta corrente foi construída para entidades cujo primeiro fim (muitas vezes, único) é o de ter lucro, firmar-se no mercado e ter longa vida. Como os fins estão definidos, não há que pensar sobre eles, mas apenas adequar a entidade para alcançá-los. Não é o caso dos órgãos governamentais não meramente operacionais nem das entidades com fins mais alargados, para as quais é necessário serem construídas hierarquias de valores que não estão dadas de antemão numa sociedade pluralista e democrática.

            Acima, ficaram claras as características dessas entidades para as quais é imprescindível uma visão político-social e que, por isto, não podem organizar sua prática sem a corrente que se chama (inadequadamente!) de Planejamento Participativo.

 

É muito raro que uma entidade tenha planejamento só estratégico ou só operacional. Há, isto sim, na mesma entidade, processos operacionais e processos estratégicos. Preferimos dizer que há planos operacionais e planos estratégicos, ou, melhor ainda, que as entidades apresentam, sempre, planos[1] operacionais e que, quase sempre, devem ter planos estratégicos. O precisar ou não de planos estratégicos deriva da necessidade ou não, em algum momento, da visão estratégica. Isto quer dizer que encontraremos empreitadas tão simples, em geral pessoais ou muito restritas, que não necessitam ultrapassar o operacional para alcançar bem suas finalidades. Mas a grande maioria das entidades precisa de momentos de visão estratégica.

Um nível é o do planejamento operacional, nome aceito por todos para caracterizar um tipo de atitude e, como consequência, de planos, que enfocam o fazer concreto, o curto prazo; este tipo de planejamento e de planos tem, como principal enfoque, a execução de projetos; ele responde a perguntas do tipo como fazer”, “com que fazere outras do mesmo tipo. Uma empresa contratada para asfaltar um trecho de uma rua numa cidade não tem motivos para elaborar um plano que contenha visão estratégica enquanto se refere a esta ação, porque é um trabalho cuja visão estratégica é de outra entidade, a contratante; o fundamental o que fazer, por que fazer e para que fazer – já está decidido e, se não o foi de maneira adequada, a empresa contratada exime-se de qualquer questionamento. É claro, contudo, que mesmo uma entidade assim tem necessidade de uma visão estratégica para o todo de sua existência.

Outro é o nível estratégico. Ele está direcionado ao médio prazo, eventualmente ao longo; ele responde a perguntas do tipo o que fazer”, “por que fazer” e “para que fazer. Um setor governamental que não seja meramente operativo, um sindicato, um partido político e todas as entidades cujo primeiro fim seja a construção social precisam estabelecer um horizonte, estabelecer uma visão de futuro e trabalhar com políticas e estratégias bem claras e construídas a partir das necessidades surgidas no diagnóstico. Só assim cumprirão sua necessidade de planejamento – e isto é ter visão estratégica.

Mas não façamos confusões: não é só o Planejamento Estratégico que traz visão estratégica – às vezes, na prática, esta visão escapa às entidades, mesmo quando dizem que fazem este tipo de planejamento; o Planejamento Participativo acentua de maneira especial – a visão estratégica. Também, digamos, en passant, por oportuno, que não é verdade que só no Planejamento Participativo há participação: ela se encontra (assim deve ser) em qualquer esforço sério de planejar.

 



[1] Mais refinadamente - sabemos que muitos vão nos entender - dever-se-ia falar em momentos estratégicos e em momentos operacionais.

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