PLANO DE GESTÃO X PLANO
POLÍTICO-SOCIAL
É fundamental compreender a
diferença entre um plano político social e um administrativo: embora se
possa falar de planejamento como gerador de processos com determinadas características comuns, na prática ele se exerce com características próprias em cada atividade humana. Exagerando um
pouco, poderíamos dizer que
planejamento corresponde à palavra
ferramenta: embora a palavra englobe uma infinidade de objetos aos quais se
pode aplicar a definição universal, cada ferramenta concreta realiza
esta definição, mas é diferente de todas as outras. Uma enxada é
ferramenta, mas é muito diferente de um martelo que também o é. Podemos alargar isto, falando em moinhos, espingardas,
televisores, telas e pincéis
de artistas que se aproximam mais de um pensar o planejamento como ferramenta.
Por
isto, devemos pensar de modo diferente os planos administrativos (ou de gestão, como preferimos dizer, hoje, nas
entidades com fins além do
seu próprio desenvolvimento)
e os planos político-sociais.
Estes são planos do povo da entidade, daquelas pessoas que dela participam,
sejam seus próprios funcionários ou pessoas por ela afetadas (há quem diga “clientes”);
são planos que, embora administrados (coordenados) pela equipe diretiva, isto é, pelos gestores, devem ter suas ideias
construídas por todo o povo.
Fora raras ocasiões, explicitadas em cada caso, tratamos especialmente dos
planos político-sociais. Mas é
claro que planos de gestão serão
mais eficazes se seguirem os mesmos modelos, técnicas e instrumentos dos planos político-sociais; a participação é que pode ser restrita a quem participa da
gestão.
Aqueles são planos da equipe administrativa. Devem estar
subordinados ao que consta nos planos político-sociais, pois a principal tarefa da gestão
será fazer com que eles se
executem; claro que estes planos de gestão conterão também aquelas práticas (ações, atitudes, regras e rotinas) que visem a
manter em harmonia toda a entidade (embora inquieta, em busca do bom e do
verdadeiro) e, sobretudo, para prover os meios de manutenção e crescimento da
entidade.
Por
isto, toda a entidade tem necessidade de construir planos concatenados, em
geral de médio e de curto prazo, de
modo que os planos de gestão se construam e se realizem no rumo apontado pelos
planos político-sociais.
Nosso interesse, hoje, é maior
pelos planos político-sociais,
inclusive porque elaborar planos administrativos é mais fácil, já que sua teorização é mais desenvolvida e os bons textos a respeito são
numerosos. Mas, sem os consequentes planos de gestão, como planos setoriais dos
planos político-sociais,
haverá uma lacuna sensível e prejudicial. É, de fato, necessário superar a atual ideia de alguns teóricos e de políticos de que são suficientes planos
administrativos para qualquer entidade, governamental ou não. Desta ideia está
impregnada a corrente que se chamou
(inadequadamente!) de Planejamento Estratégico. Sua origem vem do fato de que esta corrente
foi construída para entidades
cujo primeiro fim (muitas vezes, único) é o de ter lucro, firmar-se no mercado e ter longa
vida. Como os fins estão definidos, não há que pensar sobre eles, mas
apenas adequar a entidade para alcançá-los. Não é o caso dos órgãos governamentais não meramente operacionais nem das
entidades com fins mais alargados, para as quais é necessário serem construídas
hierarquias de valores que não estão dadas de antemão numa sociedade pluralista
e democrática.
Acima,
ficaram claras as características
dessas entidades para as quais é imprescindível uma visão político-social e
que, por isto, não podem organizar sua prática sem a corrente que se chama
(inadequadamente!) de Planejamento Participativo.
É muito raro que uma entidade tenha planejamento só estratégico ou só operacional. Há, isto sim, na mesma entidade, processos
operacionais e processos estratégicos. Preferimos dizer que há planos operacionais e planos estratégicos, ou, melhor ainda, que as entidades apresentam, sempre, planos[1] operacionais e que, quase sempre, devem
ter planos estratégicos. O precisar
ou não de planos estratégicos
deriva da necessidade ou não, em algum momento, da visão estratégica. Isto quer dizer que encontraremos
empreitadas tão simples, em geral pessoais ou muito restritas, que não
necessitam ultrapassar o operacional para alcançar bem suas finalidades. Mas a grande maioria das
entidades precisa de momentos de visão estratégica.
Um nível é o do
planejamento operacional, nome aceito por todos para caracterizar um tipo de
atitude e, como consequência,
de planos, que enfocam o fazer concreto, o curto prazo; este tipo de
planejamento e de planos tem, como principal enfoque, a execução de projetos;
ele responde a perguntas do tipo “como fazer”, “com que
fazer” e outras do mesmo
tipo. Uma empresa contratada para asfaltar um trecho de uma rua numa cidade não
tem motivos para elaborar um plano que contenha visão estratégica enquanto se refere a esta ação,
porque é um trabalho cuja visão estratégica
é de outra entidade, a contratante;
o fundamental – o que fazer,
por que fazer e para que fazer – já está decidido e, se não o foi de maneira adequada, a empresa contratada exime-se
de qualquer questionamento. É claro, contudo, que mesmo uma entidade assim tem
necessidade de uma visão estratégica para o todo de sua existência.
Outro é o nível estratégico. Ele está direcionado ao médio prazo, eventualmente ao longo; ele responde a
perguntas do tipo “o que
fazer”, “por que fazer”
e “para que fazer”. Um setor governamental que não seja
meramente operativo, um sindicato, um partido político e todas as entidades cujo primeiro fim seja a
construção social precisam estabelecer um horizonte, estabelecer uma visão de
futuro e trabalhar com políticas
e estratégias bem claras e
construídas a partir das
necessidades surgidas no diagnóstico. Só assim cumprirão
sua necessidade de planejamento – e isto é ter visão estratégica.
Mas não façamos confusões: não é só o Planejamento Estratégico que traz visão estratégica – às vezes, na prática,
esta visão escapa às entidades, mesmo quando dizem que fazem
este tipo de planejamento; o Planejamento Participativo acentua – de maneira especial – a visão estratégica. Também, digamos, en passant, por oportuno, que não é verdade que só no
Planejamento Participativo há participação: ela se encontra (assim deve ser) em qualquer esforço sério de
planejar.
[1] Mais refinadamente - sabemos que muitos
vão nos entender - dever-se-ia falar em momentos estratégicos e em momentos
operacionais.
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