quinta-feira, 8 de abril de 2010

DOURADO E A ESCOLA: REFLEXÃO NECESSÁRIA

         Também escrevi sobre o BBB. Todos escrevem: quase tudo o que sei sobre o que aconteceu no programa, sei-o por ter lido ou ouvido. Acho que nós, educadores, devemos ter olhos e ouvidos atentos para tudo o que acontece, mesmo que não tenhamos coragem de ver certas coisas

     Não vi o BBB, mas sei quase tudo sobre ele. Aliás, este é um programa que “ninguém vê” e que atinge 60% de audiência. Até David Coimbra, na Zero Hora de 02 de abril, para falar sobre o BBB, adverte os leitores de que nunca assiste ao programa.
     Ficamos sabendo tudo. Eu que leio o caderno “Kzuka na Zero”, para compreender um pouco mais quem vai à escola – no caso, a adolescência e a primeira juventude – encontrei-me, neste mesmo dia 02 de abril, com declarações sobre a escola de Dourado, feitas por ele mesmo e por uma de suas professoras do ensino médio.
     Antes de ler esta matéria, eu sabia – de novo sem ter visto, mas tendo ouvido – que Dourado perguntara aos companheiros de programa se quem é reprovado na escola é mais ou menos inteligente do que os outros que sempre foram aprovados. Diante da resposta de que o reprovado é menos inteligente, Dourado, repetente no BBB, concluiu que ele era um dos mais “burros” do grupo.
     Na matéria de “Kzuka na Zero”, duas informações chamam, logo, a atenção. Uma, sobre as notas de Dourado, não muito boas, aliás: das cinco que se veem no boletim apresentado e nas que são mencionadas na reportagem, apenas a de Educação Física daria orgulho aos pais. A segunda é o depoimento da professora de Geografia, disciplina em que Dourado tem nota razoável (7,1): “Ele me marcou muito, pelo carisma. Sempre foi muito querido”. Noutro lugar, a professora diz que ele era bom aluno e muito contestador. E mais: ela lembra que ele questionava muito as coisas e que falava demais.
     Na entrevista, Dourado contraria sua professora, embora possamos admitir que as duas coisas aconteceram. Ele se diz “bem quieto” e “bem introspectivo”. Mas seu resumo sobre o modo de enfrentar a escola é uma pérola que demonstra um dos modos mais inteligentes de fazê-lo, e que aparece como um crime para o bom pensamento escolar do senso comum: “Eu descobri, depois de um certo tempo, que só precisava estudar na recuperação. Então, passava o ano vagabundeando, chegava no limite das faltas, mas, no final do ano, estudando, passava tranquilamente”.
     Antes que alguém se levante para explodir Dourado, penso que se deve refletir sobre duas atenuantes. A primeira, que ele cursou Educação Física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e que, portanto, foi classificado num vestibular difícil; a segunda, que é a escola básica, com seu currículo desastroso – por favor, não culpem os professores – que causa tais atitudes entre os estudantes.
     Já se disse que Dourado é um exemplo para o Brasil. Que o seja, pelo menos, para a educação escolar. Disciplinas – poucas e mal escolhidas; notas que aprovam e reprovam, muitas vezes por décimos; conteúdos formalizados, pobres e sem ligação com a vida; professores falando o tempo todo; livros didáticos, com perguntas para sinalizar a resposta com uma cruzinha; tudo isto produz três atitudes: “eu me salvo”, decorando algumas coisas e criando um modo inteligente de “passar de ano”, ganhando elogios, sem muito “stress”; “eu sou aluno padrão”, dando importância às “lições”, deixando coisas importantes de lado, não sendo mais criança; “sou rebelde”, não aceitando saber algo que só me limita, não querendo aprender o que os adultos não sabem.

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