segunda-feira, 10 de maio de 2010

Formação Integral e Conteúdos "Obrigatórios"

     O editorial de Zero Hora do dia 15 de março de 2009 acentua algo que a consciência pública brasileira sempre advoga: “A escola não pode mais se resignar ao papel antigo de transmitir formalmente o conteúdo das matérias curriculares. Tem que oferecer aos estudantes, também, instrumentos que lhes permitam encontrar um lugar na sociedade”.

     Neste “encontrar um lugar na sociedade” certamente se incluem a cidadania, uma hierarquia de valores que conforme uma ética, as habilidades e os conhecimentos adequados a uma inserção produtiva na sociedade, uma capacidade de análise e de crítica, visando a transformações sociais necessárias.

     Uma outra convicção que complica a satisfação desta necessidade, é a de que já não é possível que os educadores, apenas com seu esforço dentro da escola, possam mudá-la. Isto porque alguns fatores se somaram para criar esta transformação quase impossível para eles: 1. o professor e a professora, em decorrência da repetição que se tornou costume, especializaram-se em suas “matérias” e têm muitas dificuldades em abrir sua prática; 2. o livro didático os obriga a manter-se fiéis aos conteúdos preestabelecidos; 3. os pais e a sociedade em geral cobram determinadas noções que se repetem desde séculos passados; 4. o vestibular condiciona os esforços nas aulas; 5. os administradores da educação criam e mantêm medidas conservadoras.

     O Ministério da Educação descobriu isto há muito tempo: primeiro, que muitas outras vivências e muitos outros conhecimentos deveriam ser incluídos no currículo escolar das crianças e dos adolescentes e, segundo, que era necessária uma intervenção da autoridade para a implantação de tais inclusões.

     Mas a proposta de solução do Ministério não foi suficiente. Diante da necessidade reconhecida de que as crianças e adolescentes deveriam trabalhar em questões ligadas à cidadania, à ética, à sexualidade, ao meio ambiente (muitas outras foram ou poderiam ser listadas), o Ministério divulgou esta peregrina invenção dos pedagogos chamada “Conteúdos Transversais”. Pretendia-se que professoras e professores “passassem” os conteúdos de sua matéria e, junto com eles, alguma tintura destas questões que são fundamentais para a cultura dos dias atuais. Resultado: o que deveria ser central, mais importante, passa a secundário e, até, a esquecido. O próprio nome “transversal” indica que tais práticas “entram de través”, que não têm tanta importância.

     Minha convicção é de que a escola não consegue formar (ou, melhor, ajudar a que se formem) integralmente seus alunos exatamente por causa da “obrigação” de “passar” o atual conteúdo formal preestabelecido. É necessária uma mudança mais radical vinda de cima.

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