quinta-feira, 4 de novembro de 2010

OS GOVERNANTES ELEITOS E A ESCOLA BÁSICA

Acabou a propaganda eleitoral e nossos administradores estão eleitos. Fico na educação e me pergunto se a campanha valeu a pena. Penso, também, sobre o que temos que esperar para o futuro neste campo.

Vejo que as falas foram iguais, tanto em relação aos diversos candidatos, quanto em comparação com outros tempos.

Todos colocaram a educação – na verdade, a escola – como prioridade fundamental, embora saibamos que isto não vai realizar-se. Primeiro, porque não é algo pensado e planejado, mas apenas um desejo benevolente; segundo, porque existem prioridades reais, algumas justificáveis, como comer, morar e ter saúde, e outras que nem podem ser anunciadas.

A fim de sustentar esta “prioridade”, fala-se que é preciso investir em educação para fazer o país progredir. Este modo de pensar, tão encantador, é muito perigoso. É que a verdade é outra: um país investe em ensino quando tem dinheiro e não aplica em educação para arrumar a economia. Não se pode confundir o efeito com a causa. Até o Brasil investiu muito em educação num momento do século passado, quando tivemos grandes taxas de crescimento. E como estamos crescendo de novo, nossos políticos prometem cometer os mesmos dois erros daquele tempo: se puderem, aumentarão a tecnologia na escola e irão investir na profissionalização no ensino médio. Lamentavelmente ninguém se dá conta de que, antes de pensar em crescimento econômico em relação à escola básica, é absolutamente necessário pensar nela como um direito das pessoas e como um dever da família e do Estado.

Por outro lado, não haverá escola de qualidade para todos sem uma radical e profunda mudança curricular, muito além da junção de disciplinas e da criação do ENEM. No mundo de hoje, a qualidade só poderá acontecer quando se extinguir o ensino por disciplinas e se deixar de lado uma suposta especialização de crianças e adolescentes e só quando cada turma de alunos for orientada por um professor único, ajudando os alunos a conhecerem melhor a natureza e a sociedade – aproveitando todo o conhecimento que a sociedade nos oferece – e, sobretudo, encaminhando-os à reflexão e ao debate sobre este mesmo conhecimento. Talvez seja necessário abolir a nota para que os alunos aprendam o que tem significado e, sobretudo, será imprescindível ajudar os professores a abandonarem a metodologia de só falarem e passarem a utilizar a participação ativa e solidária. Claro que o modo de ingresso na universidade deve ser totalmente modificado (provavelmente com o sorteio) para acabar com o engessamento do ensino básico pelo vestibular.

Das outras duas propostas, não tão acentuadas, uma é inteiramente ingênua (pôr os alunos na escola em dois turnos) e a outra é excelente, mas limitada (ter duas professoras nas turmas de primeira série)

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