segunda-feira, 23 de maio de 2011

Livro novo: "O que a Imprensa não Quer Saber sobre a Escola"

APRESENTAÇÃO


O título deste livro apresenta uma posição: as instituições como a imprensa – falarei depois da escola – são criadas nas sociedades mais complexas exatamente para reproduzir estas sociedades como um todo ou parte(s) delas. Não reproduz uma sociedade abstrata, mas gostos, costumes, tradições, modos de pensar, uma hierarquia de valores, tudo muito concreto e, por algum motivo, saliente.

Este livro mostra pontos importantes da escola sobre os quais a imprensa não quer falar. Afirma que são técnicos demais e que, por isto, não interessam às pessoas. Na verdade há modelos diversos de rádio, televisão e jornal, dirigido, cada um, a pessoas diferentes; os bons veículos, porém, somente são acessados por pessoas de elevado nível intelectual e econômico que estão abertos a debater as grandes questões educacionais, pelo menos naquilo que elas apresentam de conteúdo sobre o próprio ser humano. O que pode acontecer é que algumas vezes estas pessoas não queiram ver apresentadas certas propostas que desafiam seu senso comum.

Por isto é fundamental refletir sobre o dito comum de que os meios de comunicação social são formadores de opinião. Parece que este dizer só tem sentido se o entendermos como “os meios de comunicação social tornam massivas, por repetição, algumas convicções da parte dominante da sociedade ou de algum grupo que tenha poder”.

Apresso-me a dizer que minha relação com a imprensa, no que incluo toda a mídia, sempre foi amistosa. Na cidade em que moro, Porto Alegre, pude publicar artigos em jornais, comparecer a programas de televisão, ser entrevistado em emissoras de rádio. Em minhas viagens constantes, para cursos, palestras e consultorias, sou mais procurado pela mídia, provavelmente porque “nenhum profeta é inteiramente aceito em sua terra”.

Desta maneira, este livro não tem intenção de dizer que a “culpa é da imprensa”. Ele tem, de fato, uma proposta muito mais importante: a de advertir que, como reflexo da sociedade, a imprensa deixa de lado as verdadeiras questões da escola de ensino fundamental e médio.

Poucas vezes falou-se tanto de educação na mídia. Mas a mídia, às vezes, tranca-se diante das grandes questões. Em cadernos suplementares dos jornais, em debates na televisão e no rádio aparece alguma profundidade em questões variadas, mas quase nenhuma em matéria educacional. A mídia gosta de trapalhadas escolares, de alguns projetos esparsos que prometem milagres, do financiamento escolar, de questões administrativas e de tudo aquilo que, na escola, gere alguma sensação superficial. Se, porém, o tema for daqueles que podem ajudar a transformar realmente a escola para buscar os fins da educação estabelecidos na constituição, a mídia estanca. Temas que se refiram aos processos escolares inadequados não são divulgáveis; assim questionamentos sobre currículo (sobretudo o conteúdo preestabelecido), disciplinaridade (divisão do ensino em matérias formais), avaliação e seriação não podem ser livremente abordados; todas as alterações propostas devem ficar dentro de determinados limites para que tudo, naquilo que se supõe essencial, permaneça como está. Estes mesmos textos que constam deste livro foram enviados a jornais: uns poucos, mais inocentes, foram publicados, mas os mais agudos, aqueles que questionam, nas suas bases, o processo escolar, foram arquivados.

Talvez não se deva culpar a mídia porque ela defende o que a sociedade pede ou manda; mas, por outro lado, apenas alguns meios de comunicação fundamentalistas e menores defenderiam a pena de morte, mesmo que a maioria das pessoas nela acredite.

De qualquer modo, a ideologia assume importância definitiva. É possível falar sobre agricultura escapando-se da dimensão ideológica que ela apresenta: basta fugir das questões como, por exemplo, a de uso de agrotóxicos e de sementes transgênicas: o fazer agricultura é assunto técnico e científico. Já, quando se fala em escola, não há nada que fuja do ideológico, seja o uso do uniforme, o fazer ou não filas, o escolher este ou aquele conteúdo ou qualquer outra decisão: tudo tem conotação política e, por isto, ideológica. Ora a mídia não quer ser chamada de ideológica e nada pode dizer, sobre educação, sem sê-lo.

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Provavelmente o leitor note imediatamente algumas repetições nos textos que se seguem, algumas acompanhando a linha condutora global escolhida e outras quase literalmente reproduzidas. Isto se originou da metodologia de construção do livro: foram textos escritos em épocas diferentes, durante quase um ano, diante dos desafios que iam surgindo. Na revisão final achei prudente deixar algumas destas repetições para chamar a atenção a alguns pontos que são mais significativos: o bater nos mesmos pregos dá a sensação de que eles vão ficar firmes. Tive que excluir muitas páginas e muitos parágrafos – coisa tormentosa para um autor! – porque o material era por demais extenso diante dos limites dentro dos quais deveria ficar o texto. Mas conservei, até com repetições, aquilo que parece imprescindível para uma transformação que permita a realização do sonho, já um pouco antigo para nosso Brasil, de realizar uma “escola para todos”.

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