sexta-feira, 7 de outubro de 2011

MAIS TEMPO DE AULA???

Um senhor foi ao médico. Encontrava-se muito fraco e sem ânimo. O médico logo lhe perguntou sobre sua alimentação.

            __ Como meia abóbora de manhã, uma no almoço e outra metade à noite.

            __ É por isto que o senhor está fraco, concluiu o médico.

            __ E o que devo fazer?

            __ A partir de agora, o senhor vai levantar à meia noite e comer outra abóbora.

            A estória visa a identificar a emoção que me traz a atual declarada intenção de aumentar a carga horária anual do ensino básico: querem melhorar a escola receitando um pouco mais daquilo que é a causa da doença.

            Todos sabem que a escola vai mal como o paciente das abóboras. Mas a mente econômica, não pedagógica, que reina nas alturas não é capaz de identificar as causas, por ordem de influência. Muitas hipóteses aparecem: falta de preparo dos professores, de espaço, de equipamento, de salários dignos...

              Como para os economistas tudo se reduz a quantidades, decidiu-se que o problema é a falta de tempo. Como consequência, dispuseram: mais aulas!

Mas não falta tempo. Se multiplicarmos 9 anos por 800 horas, chegaremos ao estupendo número de 7.200 horas só no ensino fundamental. Mesmo que estas “horas” sejam períodos de 50 minutos, temos um tempo completamente suficiente para que os alunos possam se alfabetizar nas dimensões necessárias: linguística, matemática, científica, técnica, filosófica, religiosa e social.

Ouso dizer que isto é possível com os professores e condições que temos hoje nas escolas. Mas não é possível com o conteúdo, com as obrigações do livro didático, com alunos quietos, com as notas que damos... Isto tudo trava o ensino de vários modos.

O primeiro é que limita, de modo catastrófico, o saber. Fecha os alunos em algumas disciplinas, quase proibindo-os de acessarem o imenso mar de conhecimento atual. Criar novas disciplinas inviabilizaria a escola. Inventaram, então, num verdadeiro estelionato pedagógico, os “conteúdos transversais”, mandando que os importantes saberes que eles deveriam trazer (ética, meio ambiente, sexualidade, saúde e um pouco mais) sejam trabalhados por entre as disciplinas.

O segundo, mais danoso, é que aquele conjunto destrói qualquer interesse da criança e do adolescente que não seja passar no vestibular ou de tirar boas notas porque a família exige... Costumo brincar, nas minhas palestras, convidando as pessoas (em geral professores) a ficarem, depois do trabalho, para uma aula que darei, gratuitamente, sobre uma questão gramatical. Sou licenciado em Língua Portuguesa e quase sempre proponho como conteúdo “as funções sintáticas que a palavra que pode assumir numa oração”. Por que será que ninguém fica para a minha aula?

Tudo é formal, árido, desligado da vida. Leio, em Veja de 28 de setembro de 2011, o depoimento de uma professora de Física, com 30 anos de experiência, dizendo que “não é possível ensinar bem todo o conteúdo de Física”. Mas, para que se ensinaria todo o conteúdo de Física a adolescentes?

O único currículo decente para o ensino básico será o que contemple todo o saber humano, sem disciplinas, buscando, na escola, através de jornais, vídeos, revistas, tablets, livros, filmes..., o conhecimento sobre a natureza e sobre a sociedade.

Um comentário:

  1. Olá professor Danilo, saudações Reflexivas! Parabéns por sua reflexão!
    Quanto ás abóboras, Como dizia meu falecido pai, tem gente que morre da cura. Ela sabia do que falava, como tratava vários problemas de saúde ao mesmo tempo, o que arrumava uma coisa estragava outra, por consequencia de medicamentos faleceu de vários AVCs.
    Tenho comigo que a educação assim como qualquer coisa exitente é filha de seu tempo. Temos vivido em tempos em que o mundo tem apresentado uma cultura de intolerâncias, individualismos, preconceitos, discriminações...
    O primeiro passo que deveria ser dado com todo e qualquer professor (ensinador) é ensinar-lhes a aprender...
    Fico surpreso com a reposta de colegas professores, quando pergunto: "qual o objetivo do professor na educação?" quando alguns me respondem que é ensinar.
    Tenho dito que o objetivo do professor não é ensinar, e sim o aprender, o humanizar. Se o aprender não acontecer o ensino é estéril, sem valor. Gardner com sua teoria das inteligências multiplas nos trouxe o legado de que o professor tem que aprender as diversas formas de aprender, para desenvolver diversas formas de ensinar.
    Para que aconteça o ensino é necessário primeiro a aprendizagem, ou alguém dá o que não tem?
    Infelizmente pela ordem de falta de opções ou fracaço educacional, muitas pessoas caem no segmento da educação por não ser tão concorrido como medicina, direito, arquitetura. O que acaba aumentando ainda mais o fracaço da educação. Acumula as escolas de pessoas desmotivadas, por não ser a vocação desejada pela pessoa, os salários realmente não são os melhores, mas a qualidade do ensino também não justifica um aumento significativo de seus salários.
    Vocacionado ou não, o profissional deve ser competente em qualquer que seja o seu segmento.
    Há uma tentativa em querer justificar o fracaço pela ignorancia: Mas não nos foi ensinado isto na minha formação universitária, por isso eu não sei fazer. E acaba se fazendo de qualquer forma.
    O filósofo existencialista JEAN PAUL SARTRE deve dar pulos em sua sepultura, pois pensava ele que devemos ser autores e protagonistas de nossa própria história quando afirma que "Não somos aquilo que fizeram de nós, mas o que fazemos com o que fizeram de nós”

    Quem não sabe aprender não saberá ensinar.

    Qualquer que seja o limite de tempo destinado para o ensino, será insuficiente para ensinar o que seus livros trazem de conteúdos. Os conteúdos estão disponíveis nos livros, não fugirão de lá, precisamos sensibilizar nossas crianças para uma consciencia da autonomia, de pesquisa, de investigação, para o diálogo, para a reformulção destes conceitos, para a transformação das atitudes e para uma ãção polítca ética/estética.

    Vejo que é necessário uma grande transformação na consciencia social da educação. Percebo muitos colegas de trabalho brigando por número de horas aula de matemática ou português, por acharem que é mais importante que filosofia, ética, cidadania, que estão jogadas no porão da transversalidade. Mais que aprender a ler e escrever, é urgente ensinar as crianças a serem gente.
    Concluindo: Que tipo de filhos (alunos) deixaremos para o nosso mundo?

    Grande Abraço!

    --
    Geverson Luz Godoy

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