quarta-feira, 23 de novembro de 2011

DROGAS NA ESCOLA

O uso das tais apostilas junta-se aos “cursinhos”, ao vestibular, ao livro didático, às “cruzinhas”, ao professor falando o tempo todo e à avaliação classificatória das notas para emperrar as escolas de ensino básico. É um crime que cometemos, ano após ano, desgraçando a vida dos pobres que não têm perspectivas, espalhando sofrimentos, diminuindo a capacidade de pensar, de ser autônomo, de cidadania, etc., etc. Não sei como nossa sociedade suporta – mais do que isto, sustenta – estas desgraças. Só pode ser por interesses, uns deslavadamente claros, outros escondidos.

Um plano louvável do Conselho Nacional de Educação ou do MEC ou do legislativo nacional seria uma programação de cinco anos para acabar com estas coisas. A escola básica é um segmento do fazer humano que precisa tomar um caminho: ou volta ao seu significado original que sempre foi oferecer, às crianças e aos adolescentes, o saber, as habilidades e os valores de uma determinada cultura ou fracassa lamentavelmente. Nos séculos 18 e 19 e em grande parte do 20 fez isto com as disciplinas mais destacadas, para poucos e cada vez para mais crianças e adolescentes; hoje se exige que seja para todos e não podemos mais fazer isto através de disciplinas porque elas seriam em quantidade demasiada: impõe-se um ensino transdisciplinar, mantendo, ao lado do conhecimento, as habilidades e os valores, como nunca se deveria ter deixado de fazer.

Estamos longe de acabar com estas drogas. Os professores não são, em quantidade suficiente, conscientes das desgraças que estas práticas trazem. Há um esmorecimento geral por causa do conflito entre a pressão social de manter a escola como está e da pressão civilizatória de concretar uma nova escola. Tudo conspira contra processos mais condizentes com o estágio atual da humanidade. As autoridades, enquanto repetem que a escola é livre, vão segurando de muitos modos. É difícil estabelecer um pacto: o medo e a dificuldade de concordância nos pontos principais limitam iniciativas globais. As iniciativas de uma ou outra escola são toleradas, mas o inconsciente coletivo vê a escola como uma instituição que deve passar um conteúdo julgado necessário, mas que nenhum adulto, fora os especialista, sabe e que atormenta crianças e adolescente. Hoje, li em Zero Hora, um jornal de Porto Alegre, num caderno sobre o vestibular de todas as quartas-feiras, li uma vasta lição sobre os coloides, suas propriedades, sobre o movimento browniano, sobre eletroforese, sobre peptização e pectização – meu dicionário virtual não reconhece as palavras – e fiz um teste de cruzinhas, com seis questões; na 5., a resposta é “leite pasteurizado” (ligação com a vida!) e na 6., é “o efeito Tyndall” que consiste “na dispersão da luz pelas partículas coloidais”. Hoje é século 21, dia 23 de novembro de 2011. E há gente, até especialistas e autoridades, que não sabe por que o ensino não deslancha! E há eu que sabe por que se faz isto e tem vergonha de dizer, mas que não entende por que há gente com coragem de fazer.

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