segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O ENEM NÃO É CAMINHO!

Por causa deste título, devo começar esclarecendo que sou favorável ao ENEM dentro de certas circunstâncias que apresentarei logo adiante. Apesar das trapalhadas que vem apresentando, penso que ele cumpre uma etapa importante nas escolas brasileiras. Devo dizer, também, que, como mecanismo permanente na educação, ele não pode, de modo algum, ser aceito. Ele é um bom passo, mas não é o caminho.

Olhem comigo os sinais dos tempos. O mundo dá sinais claros de que teremos que realizar algumas mudanças profundas para reencaminhar a escola à sua missão original. De fato, a escola nasce para ser a maior força – ou, pelo menos, uma das maiores – na tarefa de integrar crianças e adolescentes na sociedade da qual elas e eles passaram a fazer parte. Esta tarefa sempre se exercitou em três linhas fundamentais: conhecimentos, valores e habilidades. Mesmo que haja os que gritam que escolas devem limitar-se ao conhecimento, todos sabem que é impossível o convívio humano sem a vivência de valores – sejam quais forem e em qualquer hierarquia – e, agora, estamos convencidos, como sociedade, que habilidades são mais importantes ainda do que conhecimentos porque estes são facilmente encontrados e aquelas precisam ser exercitadas diuturnamente.

Olhem agora para o ENEM! Ele herda, do vestibular, que há muitos anos entorpece a inteligência de nossos jovens, o seu principal defeito, aquele que o tornou desastroso: o espírito da cruzinha. Muito pior: este espírito, embora todos o vejam todos os dias, funciona como um espião bem aboletado em nossas fileiras de esforçados e dignos trabalhadores, parecendo não existir. Quase ninguém dos que deveriam ter um pouco de luz percebe que a diminuição do que chamam de “qualidade de ensino” tem a ver com a traição das cruzinhas. Elas massificam algo que não suporta massificação; de fato, é possível produzir pratos em série, mas pessoas humanas desabrocham na medida em que forem únicas. Quando poucos iam à escola, a massificação era superada por muitas outras oportunidades que a vida oferecia aos que lá iam porque eles tinham suficiente capital cultural para serem originais. Quando até os pobres vão à escola, as cruzinhas transformam-se em barreiras intransponíveis para muitos. O grande problema é que a satisfação com elas e o revigoramento deste amor por causa do ENEM, tranca a busca de um caminho novo para a escola dos dias de hoje, diante do novo modo de se apresentarem as necessidades do ser humano.

É por isto que o ENEM, se for passageiro, será extremamente benéfico. Ele tem a virtude de apontar para o óbvio: não há um conhecimento pré-determinado para ser bom cidadão, o que inclui ter sucesso num bom curso superior: há, sim, um conjunto de atitudes, entre as quais se destacam a criatividade, o poder de análise, a autonomia, o bom trabalho em equipe... Julgo até que são os anjos que guardam nossa Pátria, os que provocam as trapalhadas do ENEM, para que ele não se firme como mudança definitiva, pois seria exatamente uma daquelas mudanças para que tudo ficasse como está.

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