sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

O FANTÁSTICO MOSTRA A ESCOLA


            Por sorte, fiquei sabendo antes: o programa “Fantástico”, da Rede Globo, apresentaria, durante alguns domingos, cenas reais de salas de aula. Pude ver três episódios e concluir: o programa presta um grande serviço à escola. Ou não.

            Haverá algumas pessoas que enxergam e ouvem. Para elas, bem-aventuradas as imagens e os sons que mostram o que está acontecendo nas salas de aula; assustar-se-ão com as estranhas relações entre as pessoas na escola. Outras, provavelmente a maioria, extremamente apegadas ao que está estruturado, nada mais enxergarão do que a rebeldia e a má-criação das crianças e dos adolescentes.

As primeiras dirão: Como pode uma sociedade suportar professoras “dando” zero para as crianças? Por que o professor que consegue dar aulas com alguma decência tem que ser um palhaço? Por que as crianças não demonstram nenhum interesse pelas aulas? Por que as escolas obrigam as crianças a ficar sentadas e os professores a falar o tempo todo? Será que crianças precisam estudar disciplinas como se fossem especializar-se? As outras ficarão pasmas diante do desejo das crianças de mexer-se continuamente; vão querer que as escolas sejam severas contra esses futuros prováveis delinquentes; não admitirão outra atitude, para os alunos, que não fosse ficar quietinho e obedecer; temerão pelo futuro da humanidade. Para elas, tudo aquilo acentua o desejo de castigar os alunos e impor-lhes limites.

            As primeiras pensarão numa possível reestruturação escolar, com o estudo de temas que envolvam conhecimentos sobre a natureza e sobre a sociedade; gostariam de ver a criançada estudando, por exemplo, os planetas, a água, o mar, as nuvens, os rios, as hortaliças ou a construção de casas, as eleições, as diferenças entre as pessoas, os países da América, os africanos no Brasil, tudo isto – e muitas outras matérias, sem estudar alguma disciplina – sempre com a orientação do professor e com o trabalho dos alunos; ficariam felizes, esperando ver, na sala de aula, tablets como o IPAD, vídeos, filmes, revistas jornais; admitiriam grupos de alunos estudando temas diferentes dos de seus colegas... As outras desejarão mais controle, mais dureza do professor, completo domínio dos adultos sobre as crianças...

            O “Fantástico” não faz julgamentos: apenas fotografa e, assim, apresenta situações bizarras, completamente irreais entre seres humanos. Alguns raros expectadores perguntam-se sobre onde foi parar aquele natural desejo de aprender que todo ser humano demonstra desde o nascimento, aquele desejo que todas as pesquisas sublinham. A única resposta possível é que foi sufocado pelo "faz de conta” dos conhecimentos formalizados e das metodologias inadequadas. É claro que ninguém aprende as batalhas da Guerra do Paraguai, a distinção entre a vogal e a semivogal, o nome dos rios da Europa, o mínimo múltiplo comum ou a divisão celular... “conhecimentos” que são apresentados sem significado; apenas, de má vontade, o aluno memoriza para a prova. Contrariamente, vi alunos extremamente curiosos, conduzidos por um projeto por eles mesmo construído, buscando informações sobre os peixes, sobre o lixo, sobre os mamíferos, sobre o governo da cidade... e debatendo questões relacionadas a estes temas.

            Depois, o Fantástico foi a Portugal para ver a Escola da Ponte. Será que adiantará mostrar um processo escolar em que as relações entre as pessoas foram recuperadas e são normais? Será que valeu a pena ver uma escola em que aprender é uma aventura muito agradável?

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