sábado, 14 de julho de 2012

A escola que já podemos construir - COMODORO, MT

     Estive esta semana num município que não conhecia: COMODORO, no Estado de Mato Grosso. Disse-me o Prefeito que, no Município, caberia o Estado de Sergipe. De fato, fui de avião até Vilhena (RO) e, depois, de carro até a sede do Município. Foram aproximadamente 100 quilômetros desde que passamos a divisa e me disseram que ainda o Município continuava por mais 55 quilômetros além da sede.
     É município novo, tendo sido criado há um pouco mais de 20 anos e composto por uma população oriunda de várias partes do Brasil, atraída por amplas áreas de agricultura e pecuária e por madeiras, ainda livremente exploradas naquela época; é município de uns 26 mil habitantes, pequena parte deles indígenas, cujas terra são muitas, somando 62% do território.
    Havia um seminário de três dias sobre os caminhos da educação no Município. Cabia-me coordenar uma manhã de estudos sobre PROJETO PEDAGÓGICO e sobre uma APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA ATRAVÉS DE PROJETOS DE ESTUDO. Foi um excelente trabalho, embora professoras e professores ficassem muito discretos e discretas com receio de participar através da palavra.
     Escrevo porque me chamou a atenção o desenvolvimento educacional do Município, direcionado a uma escola-vida. Como havia três realidades bem diversas, três projetos pedagógicos distintos foram concebidos: para a escola indígena, para a urbana e para a do campo. Poderíamos pensar que este processo levasse a uma discriminação de pessoas, com uma escola de pior qualidade para um ou outro grupo. O que acontece é o contrário: como estão partindo das realidades que cercam cada grupo, professoras(es) aumentam sua autoestima e as crianças sentem-se motivadas a agir e, assim, a aprender cada vez mais. Em minha palestra e nas conversas com a coordenação da Secretaria de Educação chamei a atenção para a necessidade de ampliar os campos de interesse em duas direções: realizar estudos sobre aspectos culturais e sociais do Estado, do Brasil, das Américas e do mundo e não limitar a alguns itens muito pobres os conhecimentos, mas abrir-se para questões econômicas, políticas, psicológicas, científicas em geral, de ética planetária... Aquilo que o Ministério da Educação apresenta como conteúdos transversais já está sendo realizado com muito êxito porque o Município entendeu aquele saber como essencial, central e não apenas um conhecimento que se busque de través, como, por medo de mexer no âmago da escola, entendeu o Conselho Nacional de Educação.
     As escolas trabalham com projetos, tanto de produção como os característicos projetos de estudo, muitas vezes com estas duas conotações integradas; com isto realizam-se, com significativa profundidade, as aprendizagens propostas pela UNESCO e que chamamos normalmente de "os quatro pilares da educação": aprende-se a aprender, a ser, a fazer e a conviver. É encantador ouvir as escolas apresentando seus trabalhos e seus resultados com estes projetos, ajudando a população a crescer, pessoa por pessoa e como comunidade inteira. Sente-se como normal que o livro didático seja apenas uma pequena ajuda e que outras ferramentas e procedimentos assumam o verdadeiro fazer escolar. Acrescento algo por minha conta (não falamos nisto, ninguém reivindicou): é pena que se gaste todo este dinheiro com livro didático, processo empobrecedor, que leva à infantilização de alunos e professores, e que não haja recursos para jornais, revistas, livros, filmes, vídeos... para ampliar e para aprofundar o conhecimento, o desenvolvimento de habilidades e a construção de hierarquias de valores.
     Alertei e pedi, respectivamente, para a necessidade de teorizar, com mais profundidade, este trabalho que constrói uma escola para o século vinte e um, ligada à vida e à realidade, com alguns trabalhos inteiramente transdisciplinares e que publicassem algo a respeito para incentivar outros municípios a realizarem uma revolução escolar, sensata, com base científica e filosófica, para o bem social do presente e do futuro.

4 comentários:

  1. Suas palavras servem como oxigênio para nossa prática educacional. Seu exemplo, suas orientações e conselhos serão seguidos por nós educadores. Obrigada pela participação em nosso Seminário e contribuição tão significativa.

    Marcia Carraro
    Secretária de Educação e Cultura
    Comodoro/MT.

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  2. Boa tarde professor! Primeiramente gostaria de agradecer a presença do senhor em nosso município, e por outro lado como já havia uma familiarização entre os trabalhos do senhor e nossos docentes foi muito amistosa sua estada aqui. Também quero enaltecer a participação do senhor neste evento, sendo uma pessoa com grande bagagem e saber, e que os usa com muita simplicidade e com um compartilhamento muito nobre, aguardamos o senhor outras vezes em nossos próximos encontros.

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  3. Gosto muito do trabalho deste querido professor,desde o éculo passado!!Na Faculdade,muito timidamente e depois no trabalho,na Rede Municipal desde 1994.suas ideias,premissas e princípios do Trabalho e Planejamento participativo me são mui importantes!!!Abraço!!Maria Beatriz

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  4. Professor, estou adorando o blog.Fiquei sua "fã" depois do encontro em Livramento.Espero poder ouvi-lo outas vezes.
    Abraços

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