Minha disposição é de integrar-me de forma total nesta
campanha da RBS “A Educação Precisa de Respostas” e contribuir, entusiasmado, para
uma nova escola. Sinto isto como um dever de todos, especialmente de quem, como
eu, trabalha no setor. No meu caso, há mais de 50 anos.
Mas tenho que ficar preocupado com o rumo que sociedade,
educadores e autoridades estão dando ao debate. Não posso, de fato, pedir mais
investimentos, melhores condições de trabalho, professores bem formados, alunos
atentos, pais presentes na escola. Nem devo, dentro do que seria mais próximo
às minhas competências, trabalhar por novas metodologias, por avaliação mais
adequada ou por planejamento com visão científica, participativa e estratégica.
Não posso porque, sem mudar o essencial, alguns destes
pontos são impossíveis e a implantação de outros não terá significado algum.
Sou obrigado, pela consciência e pela teoria que a leitura e o trabalho foram
construindo, a dizer que nada vai mudar de maneira importante sem construção de
um novo conteúdo na escola.
Sem interesse, nada se aprende. E exigir interesse pelas
“coisas” que a escola “passa” é insano. A prova é que nós, adultos, não as
sabemos. Houve tempo, no século dezenove e em parte do vinte, em que, com pouca
gente na escola, com um currículo mais amplo e com poucas informações à
disposição por outros meios, a escola precisava de professores que “passassem”
um conteúdo tradicional, preestabelecido...
Agora, é necessário caminhar para um ensino
transdisciplinar. A prisão em algumas disciplinas é empobrecedora; remédios
como conteúdos transversais não resolvem – trazem mais confusão – e o aumento
de disciplinas é impossível.
No médio
prazo (entre 5 a 10 anos), isto significa ter um professor único por turma de
alunos; este professor deve estar preparado para orientar crianças e
adolescentes na sua busca de compreender a natureza e a sociedade. Não se
estudariam disciplinas, mas temas, aprofundando, conforme a idade dos alunos,
aquilo que um ser humano necessita para estar integrado e participando na
sociedade. No ensino fundamental, a prioridade seria o estudo da natureza,
crescendo, a cada série, o da sociedade e o da cultura, até ser este predominante
no ensino médio, onde já se daria mais escolha aos alunos, inclusive de
disciplinas e, até, de profissionalização, sobretudo de cursos rápidos para
imediata inserção no mercado.
No curto
prazo (já, agora), é possível ir introduzindo o estudo de temas, através de
projetos, mesmo que, ainda, os conteúdos das disciplinas fossem mantidos em
parte. Cada professor pode vivenciar a transdisciplinaridade a partir de sua
disciplina. Teríamos, só como exemplo, professores de Matemática ajudando os
alunos a debaterem a questão do salário mínimo, do salário dos deputados, dos
preços nos supermercados; professores de História ajudando os alunos a
debaterem a questão da escravatura e suas influências nos dias de hoje;
professores de Ciências ajudando os alunos a vivenciarem cultivos de vegetais,
a descobrirem os valores de uma ida a Marte; professores de Português estudando
jornais e revistas; professores até o quinto ano estudando os planetas, os
mamíferos, os peixes...
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