Soube, através de Zero Hora de 09 de novembro, que você
ganhou o prêmio Professor Excelência, da Prefeitura de Porto Alegre, pelo seu
trabalho na Escola América. Envio-lhe meus parabéns e os votos de que siga
inovando: você está contribuindo poderosamente para alcançarmos a escola de que
necessitamos.
A notícia me fez lembrar uma batalha que os brasileiros
venceram. Como aprendi na escola, não lembro muita coisa: só lembrei na hora da
prova. Mas o essencial é o seguinte: numa batalha em que os brasileiros estavam
sendo massacrados, o comandante mandou o corneteiro tocar “retirada geral”. O
corneteiro tocou: “cavalaria, avançar”. Os inimigos assustaram-se diante do
iminente ataque da cavalaria que nem sequer existia, e recuaram. Os brasileiros
venceram a batalha.
Os superiores do corneteiro não sabiam o que fazer: ele
merecia uma medalha porque havia transformado uma derrota em vitória e merecia
um castigo pela sua desobediência ao superior. Não sei o que fizeram.
No seu caso, Professora Michelle, você também merece um
prêmio, pelo que você faz à tarde, e uma advertência pelas aulas da manhã. O
Jornal conta sua façanha dizendo que, pelo seu projeto, “Pela manhã, a aula é
tradicional. À tarde, há oficinas nas quais as crianças leem, escrevem e fazem
atividades com bonecos que representam índios, negros ou portadores de síndrome
de Down”. Segue dizendo que este “método agilizou a alfabetização”, que “os
alunos leem fluentemente”, que “o interesse pelas aulas aumentou: nenhum aluno
abandonou a escola”.
Eu também lhe daria o prêmio, Professora Michelle! Ao
mesmo tempo, pedir-lhe-ia que não desse as aulas da manhã. Nelas, seus alunos estão
aprendendo que estudar é chato; que as aulas não servem para nada. À tarde eles
devem estar mais felizes e um dia irão perguntar-se sobre o motivo que levou
aquela professora tão bacana a dar aulas sobre dígrafos, sobre encontros
consonantais e vocálicos, sobre plurais irregulares, sobre aumentativos e
frações etc., com pequenas fórmulas que eles esquecerão antes do quinto ano. E,
no futuro, pensarão que passar pela escola é apenas uma obrigação.
Veja, Professora, que nossa sociedade levou ao extremo a
ideia de que é preciso cursar o primeiro ano com o objetivo de passar para o
segundo, cursar o segundo para ir ao terceiro; e assim por diante, até o ensino
médio que serve só para passar para universidades mais ou menos – as melhores
para quem faz “cursinho”.
Sei que, apesar do prêmio, irão incomodá-la porque dirão
que estas “brincadeiras” com bonecos são perda de tempo e que o saber só se
adquire com esforço e sofrimento; sei que aceitam isto porque há um turno em
que você “passa” aquelas coisas que só a escola sabe; sei até que dirão: “numa
escola de pessoas tão carentes, uma coisa destas é tolerável, mas não, por
exemplo, numa escola privada”.
Mas persista, Professora Michelle: você já está dando as
aulas com base na boa teoria: só se aprende quando se entra numa prática com
interesse e com atividade, pelo menos mental. E, por favor: não seja tão
“séria” pela manhã.
Gente, um escritor que sempre quis conhecer(sonhei ser) e não sabia que existia...vou levar mais textos seus para a formação continuada aqui no Mato Grosso!
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