Tem sido estimulante observar as discussões que, no seio das entidades de cunho eminentemente social, acontecem sobre planejamento. Mais interessante, ainda, é participar destes debates.
As duas décadas finais do século vinte foram extremamente importantes para que o planejamento se consagrasse como ferramenta para impulsionar, organizar, esclarecer... a ação das entidades; mais do que isto: foram, nesse período, desenvolvidas ferramentas adequadas a diversas categorias do fazer humano. Assim, quatro correntes (linhas teóricas) apresentam quatro diferentes propostas sobre como planejar, não para competirem entre si, mas para servirem a diferentes necessidades, conforme a natureza da entidade que planeja. Embora aqui só interessem duas destas correntes, cito as quatro e remeto o leitor para www.curriculosemfronteiras.org, para ver um artigo meu no número 1 da revista virtual que lá vai encontrar, ou para o meu recente livro "Soluções de Planejamento para uma Prática Estratégica e Participativa" - Editora Vozes; em qualquer dessas fontes encontram-se explicações sobre cada uma delas. São elas, com as inadequações de nomes já indicadas algumas vezes: Planejamento para a solução de Problemas, Gerenciamento da Qualidade Total, Planejamento Estratégico e Planejamento Participativo.
Como nos últimos tempos os técnicos que assessoram empresários e governantes falam muito do que é estratégico, há um repetição quase sufocante de nomeação do Planejamento Estratégico sem que saibam direito o que isso seja. Assim, muitas vezes, mesmo os que falam nele a todo tempo, não têm capacitação para utilizar aquilo que, teoricamente, é proposto como modelos, técnicas e instrumentos; limitam-se a estabelecer, de modo pobre, a missão e a visão e não alcançam entrar no significado globalizado do que é proposto como forma concreta de planejar.
O pior é que muitos administradores de entidades cujo primeiro fim não é ganhar dinheiro ou manter-se firme no mercado - o Planejamento Estratégico foi desenvolvido para isto - caem no senso comum e, sem pensar e sem utilizá-lo adequadamente, dizem que estão usando o Planejamento Estratégico.
O Planejamento Participativo desenvolveu-se para as entidades cujo primeiro fim é servir à sociedade, ajudando-a a construir-se e a reconstruir-se, dentro de hierarquias de valores construídas pelas próprias populações.
Cito as entidades que me parecem pertencer a esta categoria – e,
portanto, candidatas ao uso do Planejamento Participativo – sem dar-lhes
qualquer ordem de maior ou menor importância.
·
Governos
centrais e seus ministérios e secretarias, certos departamentos e organismos
que não sejam meramente operacionais; do mesmo modo, estados e municípios.
·
Associações
e movimentos da sociedade civil, dos mais diversos tipos.
·
Partidos
políticos.
·
Escolas
de ensino básico, sobretudo as governamentais e as particulares sem fins
lucrativos.
·
Universidades
públicas e todas as particulares sem fins lucrativos.
·
Sindicatos.
·
Igrejas
e paróquias das diversas religiões, dioceses, departamentos religiosos.
·
Províncias,
congregações e ordens religiosas, bem como grupos religiosos de qualquer tipo e
religião ou parte deles.
·
ONGs,
OSCIPs ou similares.
·
Grupos
para as mais diversas finalidades que queiram dar um sentido a suas ações
sociais.
·
Alguma
empresa (agrícola, industrial, comercial, de serviços...) cujos diretores desejem
aumentar a participação de seus funcionários e de todas as pessoas que tiverem
com ela contato, para o bem destes funcionários e destas pessoas e das
comunidades às quais pertencerem.
Nessa relação podem, talvez, caber outras entidades. O critério geral é
este: entidades cujos fins incluam contribuir para a construção das pessoas e
da sociedade. Há uma linha divisória clara que nos permite separar as
instituições, os grupos, os movimentos, os organismos e outras entidades em
dois tipos: as que se empenham em ganhar dinheiro, sendo as tarefas sociais
modos de aumentar a lucratividade e a permanência no mercado, e as que pensam,
primeiramente ou de qualquer outro modo importante, em contribuir com a
felicidade das pessoas e com a (re)construção da sociedade na linha que
escolherem. O Planejamento Participativo serve a esta segunda categoria de
entidades.
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