terça-feira, 19 de agosto de 2014

SEMPRE ÀS TERÇAS - Hojeé terça, 19 de agosto de 2014

            Publico algo sobre diagnóstico, talvez a parte mais relaxada de qualquer plano nos dias de hoje. O texto é de meu livro "INDICADORES", publicado por Edições Loyola www.loyola.com.br


O que não é Diagnóstico

          
            No campo social é comum apresentarem-se conceitos de diagnóstico que, por sua parcialidade ou incorreção, trazem mais prejuízos do que resultados. Há casos em que, mesmo havendo alguma sustentação para a utilização do termo, seu uso induz ao erro de pensar que não haja um conceito mais abrangente e bem mais útil no campo do fazer social do ser humano.

É fácil identificar práticas que são chamadas de diagnóstico, mas que não o são ou que impedem a utilização desta ferramenta em sua plenitude.

·         Informações sobre as pessoas. De uns tempos para cá cresceu a atenção das pessoas sobre a realidade. Assim é comum que escolas, por exemplo, façam grandes (ou pequenos) levantamentos sobre as condições da comunidade ou sobre o grupo de alunos. Como são as casas, que tipos de famílias existem, quais as profissões dos responsáveis, que idades têm os alunos, qual a renda per capita das suas famílias??? E logo haverá alguém para chamar isto de diagnóstico. É como se o médico chamasse de diagnóstico ao conjunto de informações iniciais que ele recolhe de seu paciente: idade, lugar de nascimento, idade dos pais, doenças que já teve, causas de morte na família, condições em que trabalha...

·         Levantamento de problemas. É comum que as pessoas se reúnam – nas escolas até chamam a comunidade – e façam uma longa lista de problemas como se isto fosse o diagnóstico. Pedem para que todos escrevam os pontos fracos e os pontos fortes, o que vai bem e o que não vai bem e isto é o melhor que conseguem em matéria de “diagnóstico”. Até aparecem instrumentos "científicos", com sempre, às vezes, nunca. É a mesma coisa que dizer que é diagnóstico a lista de problemas que alguém leva ao médico. A dor de cabeça, a indisposição, o sono exagerado, a ansiedade... que alguém diz sentir quase sempre ajudarão para encaminhar o diagnóstico, mas, de modo algum, são o diagnóstico. Assim, se professoras e professores reunidos disserem que os alunos estão distraídos, que falta giz, que os pais não vêm à escola, que o conteúdo passado é abstrato, que pouco se aprende... estarão relacionando problemas, mas não fazendo diagnóstico.

·         Estatísticas. Muitos dão o nome de diagnóstico às estatísticas que se fazem para descrever a realidade num ponto determinado. Então, levantam-se dados sobre a realidade, organizam-se estes dados, com percentagens, médias, modas e não sei que mais e se pensa que está feito o diagnóstico. Vi uma escola que julgou ter problemas com demasiada reprovação e que fez um levantamento pormenorizado, com médias, por idade, por série e não sei que mais. Tudo com gráficos, tabelas e apresentação por computador. Naturalmente continuou com suas reprovações e outros desastres. Pensar que isto é diagnóstico equivale a dizer que as quantidades e as percentagens que constam nos exames de laboratório são o diagnóstico. São apenas a descrição da realidade do paciente; o diagnóstico ainda precisa ser feito. Existe até, na educação, a invenção de um tal “levantamento antropológico” que serviria para descobrir temas de trabalho com os alunos

 

O que é o Diagnóstico

            As práticas indicadas acima não são inúteis, são insuficientes. Muitos dos elementos que elas trazem serão incorporados ao diagnóstico, mas eles não são “o” diagnóstico.

            O diagnóstico é um juízo sobre a realidade (sobre a prática) à luz dos critérios que, por natureza, dizem como deve ser esta realidade ou à luz de critérios estabelecidos pela escolha de um referencial, realizada por uma pessoa ou por um grupo. O diagnóstico é, assim, uma comparação entre a realidade (prática) e o seu referencial, para ver até que ponto esta realidade (prática) está de acordo com o referencial. É isto que faz um médico: partindo dos referenciais de saúde e conhecendo a realidade do paciente através dos exames, diz a que distância está este paciente daquele referencial.

            Embora haja muitos tipos de diagnóstico[1], conforme a tarefa que se tem entre as mãos, pode-se dizer que não existe possibilidade de desenvolvimento humano sem a realização de diagnósticos. Na prática de uma instituição como a escola, o diagnóstico raramente é feito. A falta de relação entre o que se diz que se quer e os processos que se levam à prática é tão profunda que impede qualquer possibilidade de planejamento com visão estratégica na escola: não se vê mais a relação entre o fazer e os resultados. As escolas desejam sair de uma situação desconfortante de não alcançar resultados; mas quase sempre não se dão conta claramente do que está acontecendo e, sobretudo as que se dão conta não sabem como fazer a mudança.
 
O diagnóstico é diferente conforme se tratar de uma ou de outra corrente, isto é, conforme o planejamento tenha um ou outro objetivo ou, ainda, conforme ele estiver respondendo a uma ou outra necessidade. Brevemente: para o Gerenciamento da Qualidade Total, diagnóstico é o levantamento de problemas, com os elementos que nos permitam entendê-los o mais amplamente e, quando possível, com as causas que os originam; para o Planejamento estratégico, diagnóstico é, essencialmente, a análise das oportunidades e das ameaças do mercado; para o Planejamento Participativo é uma comparação entre a prática e o ideal para ela proposto através de um referencial (um projeto político e um projeto operativo), a fim de descobrir a distância entre esta prática e aquele referencial que é teórico e ideológico.




[1] Ver, a respeito, GANDIN, Danilo e CRUZ, Carlos H. Carrilho – Planejamento na Sala de Aula, Edição dos Autores, pág. 49 e ss ou GANDIN, Danilo e GANDIN, Luís A. – Temas para um Projeto Político-Pedagógico, Editora Vozes, pág. 51 e 52.

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