O que não é Diagnóstico
No
campo social é comum apresentarem-se conceitos de diagnóstico que, por sua
parcialidade ou incorreção, trazem mais prejuízos do que resultados. Há casos
em que, mesmo havendo alguma sustentação para a utilização do termo, seu uso
induz ao erro de pensar que não haja um conceito mais abrangente e bem mais
útil no campo do fazer social do ser humano.
É fácil
identificar práticas que são chamadas de diagnóstico, mas que não o são ou que
impedem a utilização desta ferramenta em sua plenitude.
·
Informações sobre as pessoas. De uns
tempos para cá cresceu a atenção das pessoas sobre a realidade. Assim é comum
que escolas, por exemplo, façam grandes (ou pequenos) levantamentos sobre as
condições da comunidade ou sobre o grupo de alunos. Como são as casas, que
tipos de famílias existem, quais as profissões dos responsáveis, que idades têm
os alunos, qual a renda per capita das suas famílias??? E logo haverá alguém
para chamar isto de diagnóstico. É como se o médico chamasse de diagnóstico ao
conjunto de informações iniciais que ele recolhe de seu paciente: idade, lugar
de nascimento, idade dos pais, doenças que já teve, causas de morte na família,
condições em que trabalha...
·
Levantamento de problemas. É comum que as
pessoas se reúnam – nas escolas até chamam a comunidade – e façam uma longa
lista de problemas como se isto fosse o diagnóstico. Pedem para que todos escrevam os pontos fracos e os pontos fortes, o que vai
bem e o que não vai bem e isto é o melhor que conseguem em matéria de
“diagnóstico”. Até aparecem instrumentos "científicos", com sempre, às vezes, nunca. É a mesma coisa que dizer
que é diagnóstico a lista de problemas que alguém leva ao médico. A dor de
cabeça, a indisposição, o sono exagerado, a ansiedade... que alguém diz sentir
quase sempre ajudarão para encaminhar o diagnóstico, mas, de modo algum, são o diagnóstico. Assim, se
professoras e professores reunidos disserem que os alunos estão distraídos, que
falta giz, que os pais não vêm à escola, que o conteúdo passado é abstrato, que
pouco se aprende... estarão relacionando problemas, mas não fazendo
diagnóstico.
·
Estatísticas. Muitos dão o nome de
diagnóstico às estatísticas que se fazem para descrever a realidade num ponto
determinado. Então, levantam-se dados sobre a realidade, organizam-se estes
dados, com percentagens, médias, modas e não sei que mais e se pensa que está
feito o diagnóstico. Vi uma escola que julgou ter problemas com demasiada
reprovação e que fez um levantamento pormenorizado, com médias, por idade, por
série e não sei que mais. Tudo com gráficos, tabelas e apresentação por computador.
Naturalmente continuou com suas reprovações e outros desastres. Pensar que isto
é diagnóstico equivale a dizer que as quantidades e as percentagens que constam
nos exames de laboratório são o diagnóstico. São apenas a descrição da
realidade do paciente; o diagnóstico ainda precisa ser feito. Existe até, na
educação, a invenção de um tal “levantamento antropológico” que serviria para
descobrir temas de trabalho com os alunos
O que é o Diagnóstico
As
práticas indicadas acima não são inúteis, são insuficientes. Muitos dos
elementos que elas trazem serão incorporados ao diagnóstico, mas eles não são
“o” diagnóstico.
O
diagnóstico é um juízo sobre a realidade (sobre a prática) à luz dos critérios
que, por natureza, dizem como deve ser esta realidade ou à luz de critérios
estabelecidos pela escolha de um referencial, realizada por uma pessoa ou por
um grupo. O diagnóstico é, assim, uma comparação entre a realidade (prática) e
o seu referencial, para ver até que ponto
esta realidade (prática) está de acordo com o referencial. É isto que faz
um médico: partindo dos referenciais de saúde e conhecendo a realidade do
paciente através dos exames, diz a que distância está este paciente daquele
referencial.
Embora
haja muitos tipos de diagnóstico[1],
conforme a tarefa que se tem entre as mãos, pode-se dizer que não existe
possibilidade de desenvolvimento humano sem a realização de diagnósticos. Na
prática de uma instituição como a escola, o diagnóstico raramente é feito. A
falta de relação entre o que se diz que se quer e os processos que se levam à
prática é tão profunda que impede qualquer possibilidade de planejamento com
visão estratégica na escola: não se vê mais a relação entre o fazer e os
resultados. As escolas desejam sair de uma situação desconfortante de não
alcançar resultados; mas quase sempre não se dão conta claramente do que está
acontecendo e, sobretudo as que se dão conta não sabem como fazer a mudança.
O diagnóstico é diferente conforme se tratar de uma ou de outra corrente, isto é, conforme o planejamento tenha um ou outro objetivo ou, ainda, conforme ele estiver respondendo a uma ou outra necessidade. Brevemente: para o Gerenciamento da Qualidade Total, diagnóstico é o levantamento de problemas, com os elementos que nos permitam entendê-los o mais amplamente e, quando possível, com as causas que os originam; para o Planejamento estratégico, diagnóstico é, essencialmente, a análise das oportunidades e das ameaças do mercado; para o Planejamento Participativo é uma comparação entre a prática e o ideal para ela proposto através de um referencial (um projeto político e um projeto operativo), a fim de descobrir a distância entre esta prática e aquele referencial que é teórico e ideológico.
[1]
Ver, a respeito, GANDIN, Danilo e CRUZ, Carlos H. Carrilho – Planejamento na
Sala de Aula, Edição dos Autores, pág. 49 e ss ou GANDIN, Danilo e GANDIN, Luís
A. – Temas para um Projeto Político-Pedagógico, Editora Vozes, pág. 51 e 52.
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