(seguindo a falar sobre diagnóstico}
A Vez dos Indicadores
Neste contexto é que aparecem os indicadores
como ferramentas imprescindíveis para um dos momentos mais importantes do
processo de planejamento que é o diagnóstico.
Para
enfrentar esta situação os indicadores assumem importância decisiva. Auxiliando
a realizar um bom diagnóstico, eles podem garantir a passagem de um fazer
confuso e sem orientação a uma práxis firmada num horizonte e com ações
dirigidas a um novo fazer pedagógico Em primeiro lugar (depois aparecerão
outras vantagens do trabalho com indicadores), são eles que permitem a clareza,
a precisão e a verificabilidade do referencial. Por exemplo: se uma escola tem
no seu projeto pedagógico a ideia de que quer desenvolver a consciência
crítica, fica difícil de dizer a distância que há entre a prática e este referencial.
Mas a tarefa de verificar se determinados indicadores estão presentes na
realidade e em que grau isto acontece é bastante simples. Por exemplo (isto é
só um exemplo, os indicadores têm que estar em bem maior número): poderia
verificar se há debates em sala de aula, se temas da atualidade política,
social e econômica são tratados, se há esforço para propiciar a participação.
Isto é fácil de ser verificado e, além de impedir que se esconda o que não se
faz na direção do que se propôs, permite que se tenha clareza sobre as
necessidades que determinada instituição tem num determinado momento.
Indicadores
são sinais para saber se algo que não se pode ver diretamente está presente numa
realidade. Às vezes não se pode descobrir diretamente a presença de algo. Por
exemplo é difícil saber diretamente se uma escola é democrática. Mas, se
soubermos que sinais estão ligados a este algo, poderemos concluir sobre sua
presença e sua intensidade na realidade. Se alguém sabe o que é ser uma escola
democrática, como isto se manifesta, analisará se estão presentes na realidade
estas manifestações e conforme sua maior ou menor intensidade poderá dizer se a
escola é muito ou pouco democrática. Como o médico: ele não pode “ver” as
doenças; para dizer, por exemplo, que alguém está com meningite, examina os
sinais que “indicam” sua presença. Estes sinais se chamam sintomas. No campo
social chamam-se indicadores.
Não
é difícil aplicar estas idéias ao processo de planejar, isto é, ao processo de
construir ou reconstruir a realidade.
O
projeto político-pedagógico sozinho não resolve. Ele apenas apresenta a
filosofia, estabelece a direção para a qual a instituição quer seguir. Além
desta filosofia, isto é, das opções fundamentais que a instituição faz, daquilo
que muitas vezes se chama de objetivos da instituição, é necessário realizar um
diagnóstico (a fim de ver como está a realização daquelas opções na prática) e
propor ações, atitudes, regras e rotinas para sanar as necessidades descobertas
no diagnóstico.
Como Trabalhar com Indicadores
Em
dois momentos vão ser importantes os indicadores. O primeiro e principal é o de
concretizar a filosofia para que se possa realizar um diagnóstico[1].
Os
passos são bastante simples e serão aqui indicados brevemente, da maneira mais
operacional possível. Para isto, supomos – como é comum e normal - que a
instituição tenha um referencial, não importando o nome que lhe tenham dado: filosofia,
projeto político-pedagógico, diretrizes... Daí é que se vai partir para preparar instrumentos para realizar um
diagnóstico de forma participativa, à maneira da pesquisa participante ou da
pesquisa-ação. Algumas tarefas, numa seqüência determinada, são
necessárias.
1.
Extrair, do referencial, os temas que significam as
opções básicas do grupo é a primeira tarefa. A pergunta que tem que ser
respondida é: quais as áreas temáticas que estão contidas neste texto? Uma
observação importante é necessária aqui: o referencial de uma instituição, um
grupo ou um movimento que tenha uma dimensão social, isto é, cujo fim principal
seja contribuir, diretamente, para a construção de uma sociedade, tem (ou
deveria ter) uma dupla dimensão, a política ou doutrinária e a operacional.
Quase sempre é possível realizar esta primeira tarefa apenas sobre a parte
operacional desta filosofia; isto é válido porque, como deve haver coerência
entre o horizonte político e o ideal operativo, a verificação da distância
entre a prática e este “ideal dos meios” será suficiente para responder também
a pergunta sobre até que ponto a instituição, o grupo ou o movimento está
contribuindo para a construção de uma sociedade de acordo com seu horizonte
político. Podemos ter instituições, grupos ou movimentos que, mesmo atuando em
campos diversos do fazer humano, tenham aproximados horizontes políticos, mas
os ideais do fazer estarão submetidos ao campo de ação da instituição, grupo ou
movimento. Assim, um partido político, uma escola, uma ONG poderiam estar
próximos nos seus ideais de sociedade e de pessoa humana, mas cada uma delas
teria que ter um referencial operativo segundo a natureza do campo de sua ação.
Além de um projeto político, uma escola tem um projeto pedagógico, um
sindicato, um projeto sindical, um partido político, um projeto partidário e
assim por diante. É deste projeto pedagógico, deste projeto sindical, deste
projeto partidário que se retiram os temas para serem os temas de investigação,
na busca de organizar instrumentos para realizar um diagnóstico. Um exemplo ajudará
a esclarecer esta primeira tarefa. Exemplos sempre serão parciais, não tomando
todo um texto; além disto, pretendem apenas mostrar como se faz e não sugerir
idéias para incluir em planos).
“A escola que queremos é aquela em que o
educando é sujeito de seu desenvolvimento. Mas não queremos que este
desenvolvimento seja egoísta ou que só se preocupe com cada pessoa
isoladamente: pretendemos uma educação em comunidade.
Neste esforço
queremos uma educação que seja democrática, que se desenvolva num ambiente de
liberdade e, ao mesmo tempo, de cidadania”
Neste texto
(é só um breve trecho de um projeto pedagógico de escola) podemos retirar os
seguintes temas: a) Educando sujeito de seu desenvolvimento. b) Educação
comunitária. c) Escola democrática. d) Ambiente de liberdade. e) Escola cidadã.[2]
2.
Elaborar, para cada área temática assim escolhida, uma
pergunta que explicitará, com mais exatidão, o que se pretende saber na
investigação sobre a realidade. Em geral devem ser perguntas simples, bastante
amplas que, depois, serão delimitadas pelos indicadores. Embora tenha
trabalhado com alguns tipos de perguntas, nos últimos tempos fixei-me numa fórmula
que resiste a qualquer crítica e, sobretudo, a qualquer tipo de erro. É a
pergunta que diz simplesmente: até que ponto tal coisa está presente e falta na
realidade? Exemplificando, a partir dos temas anteriormente reunidos: a) Até
que ponto, em nossa Escola, o aluno é sujeito do seu desenvolvimento? b) Até
que ponto a educação, em nossa Escola, é comunitária? c) Até que ponto nossa
Escola é democrática? ou Até que ponto a prática de nossa Escola promove a
democracia? ou ambas as perguntas.
Obviamente tais
perguntas são genéricas. Sua finalidade é delimitar o campo que se quer
avaliar. Para que elas possam funcionar, isto é, para que as pessoas possam
respondê-las com proveito, tanto nos momentos de trabalho individual como nos
processos de construção de grupos, é que serão necessários os indicadores: o
conjunto tema-pergunta recebe clareza, precisão e operacionalidade dos
indicadores. Por isto a terceira tarefa, proposta a seguir.
3.
Definir, para cada uma das opções (objetivos,
horizontes, ideais, valores...) firmadas nas áreas temáticas retiradas do
referencial e delimitadas pelas perguntas, os indicadores de sua maior ou menor
presença na realidade. (Volto a insistir: se a escola - ou qualquer outra
instituição - não realizar um diagnóstico a fim de ver até que ponto aquilo que
é seu referencial está sendo realizado na realidade, de nada adiantará ter tal
filosofia; e se não levantar os indicadores, terá dificuldade em realizar este
diagnóstico.)
Obs.: Os exemplos serão publicados na próxima terça-feira.
[1] . O
outro vai ser na programação do modo como será indicado brevemente no final
[2]
Observem que qualquer sucesso nas instituições, nos grupos ou nos movimentos
que tratam de questões relacionadas à construção social, só será possível se
for estabelecido um horizonte claro (um ideal) do fazer e se a partir deste
ideal for realizado uma avaliação diagnóstica a fim de descobrir quais as
distâncias concretas que há entre a realidade e esse referencial definido.
Existe quase uma tradição de escrever um referencial bonito e depois seguir
fazendo como sempre se fez ou como os outros fazem.
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