Novas estatísticas sobre aproveitamento no ENEM foram
publicadas logo antes do Natal, no dia 23. Sempre com o mesmo espanto: estamos
longe do que seria bom. Mas, com algo novo, juntado, pela própria mídia, à
informação: onde há mais dinheiro, há melhores notas.
A grande vantagem disto é que as pessoas não
completamente distraídas podem, talvez, colocar o nível dos debates
educacionais em outro patamar. Sempre se debate a escola de ensino básico como
se o problema estivesse dentro dela; o enfoque da relação escola/dinheiro pode
trazer alguns para compreender que os problemas da escola estão na sociedade.
É algo que qualquer pessoa percebe, sem consciência
plena do que viu: os ricos e os remediados tiram melhores notas do que os
pobres; como dizem os sociólogos da educação: escolas do centro têm alunos
“melhores” do que escolas da periferia. Também dizem, com um toque detestado
pela maioria que não pensa, que filhos da classe dominante levam, à escola, um
capital cultural que não passa pela casa ou pela cabeça dos que precisam,
realmente, pensar no que é prioritário, isto é, vestir-se, alimentar-se e morar.
Nesta diferença, longe ainda da escola, situam-se as
questões fundamentais: para quem deve
ser organizada a escola? Para alcançar o quê? Qual currículo deve ser proposto
para isso? Quais outras variáveis devem ser controladas?
Um país homogeneamente rico ou que receba recursos externos
em boa quantidade, pode fazer qualquer escola com suas crianças porque elas
vencerão e ajudarão o progresso. Um país como o Brasil, com populações tão
diferentes – famílias com alguns dólares por dia, outras com centenas deles –
precisa organizar sua escola básica com rigor científico, técnico e ideológico para
que seja possível, a todas as crianças, construir sua identidade e cidadania e
apropriar-se de ferramentas para participar na sociedade.
Há duas tarefas a realizar, no Brasil, para que
nossa escola possa contribuir para o desenvolvimento, como todos desejam:
acabar com a escola adequada, no século dezenove, para uma elite emergente,
construindo uma escola para todos, e firmar um processo de planejamento que se
baseie na participação e no método científico. Uma escola cheia de matérias,
com o horizonte no vestibular (ou no ENEM dos cursinhos), deve ceder seu lugar
a uma escola com temas da natureza e da sociedade (da cultura), de modo
transdisciplinar, com a técnica de projetos de estudo. Um planejamento
inspirado no senso comum precisa ser substituído por processos adequados – já
existem com precisão e clareza – para facilitar a transformação reconstrutiva
da realidade, com planos que, ao final, proponham ações, rotinas, atitudes e
regras para a prática. Planos de médio prazo, sobretudo se forem de entidade
abrangente, não vão chegar a muita coisa se seus itens mais operacionais forem
metas e estratégias mal formuladas; no atual PNE falta, ainda, clareza do que
se quer alcançar e um diagnóstico que vá além de números, que busque saber por
que nosso ensino não se abre.
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