sábado, 29 de maio de 2010

DEBATES NA ESCOLA

Publico uma das crônicas do livro "Crônicas para uma Nova Escola" - www.wakeditora.com.br A intenção não é ir contra as reuniões na escola, mas perguntar quais temas devem ser tratados. Afinal, o Planejamento Participativo exige que os educadores e as educadoras de uma escola estejam sempre juntos na elaboração, execução e avaliação de planos e isto exige reuniões.

PRECOCIDADE
Paulinho era um menino precoce. Freqüentava, desde os cinco anos, as reuniões das professoras da escola. Faz parte de um grupo especial de gente que conheceram a escola como participantes de reuniões e só depois como alunos. Sua mãe era professora de uma escola estadual e, uma vez ou outra, por não haver ninguém para ficar com ele, sobretudo nos sábados, levava-o nas reuniões do Colégio, para onde se podia ir a pé, pois a escola era muito perto de casa.
Nas minhas palestras, eventualmente há crianças trazidas pelas mães. Mas, embora sejam importantes para mim já que, afinal, é por elas que damos a vida, uma palestra não as toca muito, pois estão perdidas no meio de 300, 400... professores. Mas numa reunião onde estão apenas 20 ou 30 pessoas, as crianças passam a ser personagens importantes.
Mãe e filho andavam pelas duas quadras que separam a casa da escola, cada qual com pensamentos e sentimentos diferentes. A mãe sabia que durante toda a manhã teria que ouvir avisos, recomendações, ordens e pedidos, quase sem poder se manifestar. Sabia, também, que a reunião não traria muitos benefícios para o trabalho. Pensava no monte de coisas que necessitava fazer, fosse em relação à escola e à sua família, fosse em relação ao cuidado de si mesma. O menino pensava no que estava perdendo: algumas leituras para completar, algum programa na televisão, mas, sobretudo, um montão de brincadeiras com os amigos e amigas da rua.
Se as reuniões nas escolas fossem utilizadas para o aperfeiçoamento de professores, professoras, pessoal administrativo e de serviços, teríamos, em pouco tempo, uma transformação na educação escolar. Claro, deveríamos ter, como condição prévia, a tomada de posição sobre o que queremos com a escola. Como isto não pode ser feito por algumas pessoas no Ministério, teríamos que utilizar tais espaços de reunião para chegar a isto, em cada uma das escolas, e, onde fosse possível, nas diversas redes dentro do mesmo município e, quem sabe, em algum estado da União. Claro, todos motivados e dirigidos pelos princípios da Constituição e pelos artigos iniciais da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, aqueles que falam das finalidades e dos principais rumos da educação. A partir daí, planos plurianuais que surgissem, dariam, às reuniões, frutos verdadeiramente úteis e interessantes.
Tudo isto pensava a mãe enquanto caminhavam. O menino pensava na chatice de estar quietinho durante três horas para não atrapalhar a reunião e não envergonhar a mãe.
Por isto, antes que chegassem e já quase chegando, ele bateu levemente na mão que o segurava e chamou, assim, a atenção da mãe. Quando ela lhe deu atenção, os dois pararam e o menino olhou suplicante para a mãe dizendo: “Vocês vão ficar de reunião toda a manhã? Será que uma hora não seria suficiente? Vocês têm tanta coisa assim para discutir”?

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