quarta-feira, 9 de junho de 2010

REFLEXÃO

As grandes ideias sempre foram, primeiro, perseguidas como erradas. Depois firmaram-se e fizeram a humanidade apressar seu processo civilizatório. Há, contudo, algumas que parecem ficar sem ação, quietas no seu cantinho, como se fossem aceitas por todos, sem sê-lo. Será que é por isto que não se tornam transformadoras, como, por exemplo, as que se referem a questões tecnológicas?



MERECIMENTO E CIVILIZAÇÃO
Mesmo quem não professa religião alguma reconhece, em Jesus Cristo, um homem iluminado. Suas manifestações, ao mesmo tempo doces e incisivas, certamente contribuem para a civilização humana, no esforço para construir um mundo humano mais justo. Em qualquer dos evangelhos, dispersas aqui e acolá, há propostas dignas de figurar como ideal para qualquer pessoa, trazendo luz para a situação em que ela se encontre.

Uma destas propostas, ainda escândalo para a quase totalidade dos seres humanos é feita através da parábola dos trabalhadores da vinha (Mt, 20). Conta Jesus que foram contratados, por um salário combinado, alguns trabalhadores para um serviço numa vinha. Começaram o trabalho pela manhã bem cedo. Às 12 horas, vendo que eles não conseguiriam terminar o trabalho naquele dia, saiu e trouxe mais trabalhadores para a tarde, prometendo-lhes um salário justo, sem fixar qualquer quantia. E, de novo, pelas três horas da tarde, vendo que ainda eram poucos, trouxe outros com a mesma promessa.

Todos juntos trabalharam até o anoitecer e terminaram o serviço. O problema aconteceu na hora do pagamento. O senhor mandou pagar o mesmo salário a todos, aquele que havia contratado com os primeiros. Naturalmente (por que “naturalmente”?), estes reclamaram muito: tinham suportado o calor do dia, trabalhado muito mais tempo que os outros e ganhavam a mesma quantia? Jesus diz que o senhor explicou-lhes que lhes pagara o que havia sido combinado e que, de resto, ele podia fazer o que quisesse com seu dinheiro e, portanto, podia pagar os outros com igual valor.

A reclamação dos trabalhadores da primeira hora foi motivada pela injustiça que, segundo eles, representava aquele pagamento igual, pois eles mereciam mais. Mas a parábola quer mostrar outra coisa. Ela vai muito além de uma civilização da troca de uma coisa por outra do mesmo valor e abre a perspectiva da generosidade sem restrições, no rumo de um mundo do amor e da felicidade. Ela aponta na mesma direção de outra proposta semelhante e decisiva: a do amor ao próximo, não mais do que a si mesmo, mas com a mesma igualdade.

Durante muito tempo dir-se-á que isto é uma utopia, querendo dizer que é algo inalcançável, que é fantasia. Dir-se-á, também, que, se todos fizessem isto ao mesmo tempo, tudo seria possível, mas que quem começar algo assim sem que todos agissem do mesmo modo, irá, no mínimo, ser tachado de bobo.

Mas uma revolução deste tipo é civilizatória e, provavelmente, a única maneira de salvar a humanidade. Nem se trata de discutir o fato narrado na parábola, mas de buscar algum ensinamento para o nosso coração e para a nossa mente. Penso que a parábola não quer dar força à preguiça nem à esperteza: ela quer, de fato, alertar-nos que a salvação da humanidade é uma tarefa coletiva, que exercemos muito bem, quase sempre, quando se trata de algum membro de nossa família, como, por exemplo, de uma criança que alimentamos e da qual cuidamos sem nos preocuparmos com algum merecimento que ela tenha. A escola e a família poderiam começar a pensar nesta direção.

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