domingo, 18 de julho de 2010

A Insensatez Escolar das "autoridades"

     Às vezes me ocorrem pensamentos ruins. Fico pensando - não, não fico pensando, é só um urubu que passa bem depressa: será que estou ficando doido? Será que sou completamente ignorante? - sei que completamente não pode ser, porque ninguém é perfeito. Será que li os livros errados, fiz as experiências furadas, fui (continuo sendo) um péssimo professor - pessimo não, desastroso? É domingo de manhã -bem cedo -, chove, todos dormem e eu pensando em escola de educação básica? Estarei ficando idoso? - viva o politicamente correto! Acho que a gente fica velho mesmo. Mas eu ainda não, espero!
    Alguém aí me ajuda? O que me espanta é exatamente que continuam a fazer avaliações enquanto todos já estamos cansados de saber que a disciplinaridade, a chatice, a "sempre lesma lerda", as séries, o conteúdo pre-estabelecido e morto, as notas, o professor falando o tempo todo... são as causas dos desastres e ficam falando em tapinhas na bunda das crianças, celular na aula, bullying, computadores, lousas digitais e - pasmem- robótica pedagógica - e textos e intratextos e toda uma periferia... Há exemplos mil de que isto não funciona. Há exemplos mil de respostas, tipo Escola da Ponte... Todos falam e louvam. Chego a ver que as pessoas acreditam (será) em Paulo Freire: Ninguém educa ninguém; ninguém se educa sozinho, todos nos educamos no relacionamento,etc. Até a Unesco disse que é preciso aprender a aprender, a ser, a conviver, a fazer... Todos repetem e nada se faz. Sei muitos motivos, mas eles me parecem torpes.
     Quer saber uma coisa? Vou à missa! É aqui perto. E lá há textos de gentes que sabiam para onde estavam indo e sabiam o que queriam!

      Mas deixo algo, como uma possibilidade de pensar uma coisinha.
Parece complicado e sem fundamento o costume de realizar experiências com animais e depois estender os resultados aos seres humanos. Quando era jovem há menos tempo – agora o sou há muitíssimo tempo – chegava a irritar-me com tais procedimentos. Já era professor e vivi aqueles tempos em que alguns “cientistas” queriam que se “educassem” as crianças como eles domesticavam pombos famintos.


Mas as experiências, o aprofundamento de conhecimentos e, sobretudo, os atuais avanços da Ciência que nos tiram do centro do Universo e nos fazem ver nossa proximidade com tudo o que existe, fizeram-me compreender a vantagem que existe em observar as “práticas” desses nossos irmãos que chamamos de irracionais.

Pois estava eu, neste domingo, a colher couve, rúcula, cebolinha e salsa, em minha horta, para uma grande feijoada que comemoraria a coroação do Brasil como hexacampeão de futebol, num provável encontro histórico contra a Argentina de Maradona. Os cachorros tomavam sol preguiçosamente e observavam-me. Aqui em casa os cachorros são três, cada um mais esperto do que o outro. Nenhum deles é, na verdade, meu ou de minha esposa. Filha e genro foram chegando acompanhados e aí estão eles, um misto de alegria e de preocupação com as molecagens que costumam fazer. Há um gato também, já com comportamento de cachorro, mas que prefere as sombras ocultas.

Neste cenário repetiu-se a queda da maça de Newton: fez-se uma pequena luz sobre um cantinho bem pequeno da escuridão em que está envolto o mundo que nos cerca e o que temos dentro de nós.

Recolhida minha colheita em duas bacias, peguei uma pedrinha – pequena, tamanho do finzinho de um dedo de criancinha, daquela partezinha que contém a unha – e joguei-a na direção dos cachorros. Penso que nem um choque elétrico os faria tão rápidos – estão acostumados que, de vez em quando (muito pouco: que não o saibam os veterinários) jogo-lhes alguns grãos da ração do gato que eles apreciam muito, mas que fica fora do alcance deles, num lugar alto só alcançável pelo gato: quase juntos chegaram à pedrinha, cheiraram e voltaram para a pasmaceira do sol matinal. Passaram dois minutos e repeti o gesto com outra pedrinha, enquanto seguia sentado no murinho que separa a horta do pátio. A reação foi mais lenta, mas quase igual. Na terceira pedra, ainda se levantaram, chegaram junto à pedra com uma lentidão caracolenta. Na quarta pedra, a menorzinha ainda levantou a cabeça, os mais velhos nem olharam.

Então enchi a mão com a ração do felino. Joguei, primeiro, dois grãos. Nenhum dos cães se moveu; nem as orelhas; talvez alguns olhos tenham se mexido um pouco. Joguei três grãos. Nada. Quatro. Não havia sinal de vida. Mesmo quando joguei todo o restante, o que sobrara de uma mão cheia, nada aconteceu.

Pensei nas professoras e nos professores. Disseram-lhes: “Usem o computador!” Os educadores vibraram, se encheram de alegria; não deu resultado; voltaram a sentar-se. Outra vez: “Vamos incrementar a tecnologia!”; nada aconteceu de importaante. Mudaram os nomes; nem “jardim da infância se pode dizer”, fizeram diretrizes curriculares; refinaram com o estelionato dos “conteúdos transversais” – eles têm muito mais pedrinhas do que eu e uma infinita capacidade de inventar. Professoras e professores pegaram o livro didático e se aperfeiçoaram em pilotá-lo. Nem podem mais levantar os olhos quando alguma solução se apresenta.

Agora você diz: “Vamos compreender juntos qual pode ser o significado da escola, o que nela se deve vivenciar!” Ou: “Vamos planejar: firmar um rumo, ver como estamos, decidir o que vamos fazer”. Ou: “Vamos construir uma escola em que os alunos possam criar, brincar, aprender, ser, conviver, ser justos, ser honestos, confiar, ter esperança, compreender o mundo da natureza e da cultura...”

E tudo parece pedrinhas...

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