quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A ESCOLA, A VIOLÊNCIA E A VIDA

     Uma das grandes denúncias com que se ataca a escola – talvez a mais importante – é a de que ela se distancia muito da vida. Os conteúdos que se “passam” são muito formais e limitados, a avaliação é meramente classificatória, as metodologias baseiam-se quase unicamente na fala do professor. Mesmo quando professores e professoras tentam aproximar estes conteúdos à realidade, isto acontece apenas de vez em quando e de um modo bastante artificial. Também se destaca o fato de que a escola não se orienta por um conjunto de valores que são vividos na realidade; em vez disto, ela é refém de uma outra ética, muito esquemática e muito ligada a certezas nem sempre tão certas assim.

     Agora, nos últimos anos, a vida começou a forçar sua entrada na escola, embora em pequenas doses; o aspecto em que isto mais aparece não é nada auspicioso: ela surge entre professores e alunos através da violência.

     A escola sempre foi um lugar em que se alcançava uma razoável harmonia. Embora esta harmonia fosse conseguida à custa de violência simbólica, ela estava presente e garantiu, durante muito tempo, a saúde dos professores, os elogios mais rasgados ao processo educativo escolar e o distanciamento da vida, que não podia entrar porque era sempre imperfeita, sempre inquieta, sempre indagadora. Agora a vida vai tomando espaços e trazendo para a escola algumas de suas imperfeições, sendo a mais característica a violência.

     Em muitas escolas, professores e professoras passaram a assustar-se com o desinteresse dos alunos; depois com sua desatenção deliberada; finalmente, com má-criações e agressões, primeiro verbais e, depois, também físicas.

     Não é algo que deva nos alegrar. Mas há uma grande possibilidade de que os educadores, diante da pressão desta violência, comecem a se perguntar, em pequenos grupos e todos juntos, o porquê desta presença perigosa. Este momento será, certamente, a recuperação do espaço escolar que todos nós almejamos. É claro que descobrirão que é a violência que está na sociedade que começa a manifestar-se na escola. E saberão que a escola é uma reprodução da sociedade e que, por isto, está sujeita aos males e aos bens que se espalham na realidade social. Mais do que isto: refletirão sobre a importância de que se faça, do tempo escolar, uma vivência, um crescimento, um embate entre ideais e realidade.

     Pensando com seriedade e coletivamente sobre os porquês, um conjunto teórico se forma; não aquela teoria que os professores detestam porque é conversa fiada, mas a teoria que é explicação da realidade e embasamento para as novas reflexões e propostas.

     Esta compreensão é fundamental. Só a partir dela é que se pode construir um projeto político-pedagógico, ver quais são as possibilidades e os limites de uma possível prática transformadora e tomar decisões sobre um novo processo escolar, mudando conteúdos, avaliação, estruturas do ensino, metodologias e, assim, colocar a escola a serviço de uma nova organização social, direcionada à democracia, à participação e à justiça social.

Um comentário:

  1. Professor Gandin, o senhor ainda recomenda o uso da metodologia explicitada no livro "Escola e Transformação social"? Existem mudanças significativa em outras obras que tornaram a metodologia proposta ultrapassada? Estou produzindo um material para discutir planejamento na escola e sua metodologia me pareceu interessante. Não li o restante de sua obra, infelizmente. Abraços e agradeço a resposta, se puder. Email: arprotasio@yahoo.com.br

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