segunda-feira, 18 de julho de 2011

AVALIAÇÃO DE ESCOLAS

        Há duas semanas mandei este texto para a Zero Hora, jornal de Porto Alegre, por causa das várias aparições de G. Ioschpe, economista, falando sobre a escola como especialista em educação. Seus textos e entrevistas são inteligentes, bem objetivos e consideram a questão curricular como acabada; estas premissas levaram-no a erro ; chega a fazer o leitor pensar, em Veja, que, ao buscar emprego, o jovem vai ser questionado sobre o pretério imperfeito e sobre a tabuada. Como se vê, ele parte de uma visão formalista de um mundo estático e, daí, chega a ideias pertinentes e... desastrosas para a escola e para a sociedade.




EDUCAR PARA PROVA DO INEP?
                     O processo educacional é, sem dúvidas, um dos mais complexos que o mundo atual enfrenta. Ressalto que não foi engano escrever mundo atual: a educação sempre foi complexa, mas era razoavelmente factível no mundo filosófica e ideologicamente homogêneo que já existiu no mundo ocidental e que ainda se encontra muito em regiões orientais e no mundo rural.


Agora, desde o Renascimento, mas, sobretudo, depois da segunda grande guerra, conflitos ideológicos, étnicos e filosóficos dividiram o pensamento ocidental e, como consequência, ficou muito difícil estabelecer parâmetros educativos; de fato, para dizer o que é bom em educação, é necessário ter claro algo em torno do que ficou difícil o consenso: que tipo de ser humano e, até, de sociedade queremos ter. Esta posição parece antidemocrática, mas sem ela é impossível pensar a educação; a correção rumo à democracia deve ser feita pela amplidão e pela abertura dos ideais propostos, de modo que caibam neles as diferenças eticamente sustentáveis.


            Ora, se não conseguimos definir para onde queremos ir ou o que queremos alcançar, será quase inútil tentar avaliar aquilo que estamos fazendo ou os resultados que estamos alcançando. Então aparecem, com muito boas intenções, aqueles que apelam, na sua ânsia de ajudar, para alguma formalidade, sem fundamento e sem possibilidade de trazer maior proveito. Há duas delas que nos perseguem atualmente no Brasil: uma, a daqueles que acreditam que conhecer a hipotenusa e a classificação dos caracóis é índice de boa educação e outra, a dos que insistem ser a tecnologia educacional a essência de todo o bem.


            Apresso-me a dizer que tanto a hipotenusa e os caracóis como a tecnologia podem e devem, pelo menos esta última, frequentar as escolas. Não se pode é aceitar que, para encontrar a “objetividade”, se entregue a avaliação das escolas aos critérios numéricos dos economistas. Também não se deve dar importância ao desempenho de cada escola e de cada aluno, uma vez que a intenção desta avaliação é a de permitir a existência de dados para o encaminhamento das grandes questões educacionais.


Por outro lado, imagine-se a diferença em avaliar a escola com os critérios dos quatro pilares propostos pela UNESCO – aprender a: aprender, ser, fazer e conviver – e, depois, com os critérios da prova do INEP. As perguntas serão inevitáveis: quais são os melhores critérios? Uma escola que vai bem na prova do INEP vai bem também numa prova que busque saber se estão sendo alcançados os fins propostos pela UNESCO? Por que foram escolhidos aqueles critérios (que representam fins) e não estes (que sinalizam outros objetivos)? Não nos esqueçamos que qualquer avaliação é elemento de construção educativa: se um pai recrimina sempre seu filho que sorri, vai ensinar-lhe que sorrir não é bom; se as notas do IDEB servirem para louvar ou para desmerecer, as escolas vão “aprender” que educar é conseguir que os alunos saiam bem na prova e...  esforçar-se-ão para treinar alunos, não para ajudar a educação.


Por tudo isto avaliação de escolas deveria ser tarefa de educadores e não de economistas. Ou, pelo menos, de economistas que pudessem entender Edgar Morin, Paulo Freire e José Pacheco.

Um comentário:

  1. Perfeito!
    Quiçá todos os profissionais da educação verifiquem o que está "entre o papel e a caneta" dos que falam aqueles que acreditam entender de educação.
    Abraços,
    Débora Martins

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