terça-feira, 9 de agosto de 2011

ALGO SOBRE ESTRATÉGIA

O que consta abaixo são rascunhos de respostas a perguntas que constarão em meu futuro livro "RESOLVENDO PROBLEMAS NA PRÁTICA DO PLANEJAMENTO PARTICIPATIVO". O título pode ainda ser mudado. ATENÇÃO: É RASCUNHO, PODE-SE ENTENDER, MAS O TEXTO SERÁ REESCRITO.

É verdade que existem diferentes enfoques para o planejamento?

            De fato as circunstâncias globais de uma prática e a finalidade a ser alcançada movem o planejamento e o determinam.
            Imaginemos uma guerra. Haverá nela pelo menos três tipos de planejamento que, quando bem compreendidos, explicam[1] suas tendências naturais.
a)    Comecemos pelo mais evidente: a dos militares. Que sentido terá o planejamento dos generais durante a guerra? Parece simples a resposta: ganhá-la rapidamente, com as menores perdas possíveis. As considerações são simplesmente técnicas, quer dizer, não será necessário levar em conta mais do que a própria guerra em si, suas dinâmicas; o fazer bélico é tudo o que se exige deles; eles precisam ser competentes, especialistas...
b)    Passemos aos chefes que declararam a guerra. Seu planejamento envolveu e continuará envolvendo questões alheias à própria guerra: são análises teóricas que envolvem o bom e o mau, desde o bem-estar possível deles próprios e de seus povos, até considerações éticas relativas ao Bem e ao Mal filosoficamente considerados. Que é a guerra para eles? Um episódio entre outros, para construir o que eles (eventualmente seus povos) consideram bom. A dimensão fundamental de seu planejamento é a dimensão político-social ou, pelo menos, do bem e do mal para grupos e para pessoas.
c)    Por fim, pensemos no povo morador dos locais onde se desenrola a guerra. Para que as pessoas vão planejar? Obviamente para sobreviver. Deixarão planos mais audaciosos para quando termine a guerra e se concentram naquilo que vai representar a possibilidade de sair com vida e com os menores prejuízos possíveis. Concentrar-se-ão na solução de problemas que põem em risco sua sobrevivência.

Seria exagero dizer que o Gerenciamento da Qualidade Total (GQT) - que utiliza a solução de problemas como metodologia - seria exagero dizer que o GQT corresponde ao que disse acima da visão do povo que sofre uma guerra, simplesmente sobreviver, com a única finalidade de sofrer os menores prejuízos possíveis. Mas é certo que o grande sonho do GQT é a sobrevivência[2], utilizando, para isto, a competitividade que vem da produtividade que vem da qualidade que se compõe da satisfação do cliente, do preço adequado e do atendimento. Mas é evidente que a aproximação deve ser feita e que o GQT tem como base a idéia de que o planejamento serve para que a instituição[3] funcione sem problemas.
Seria exagero também dizer que as empresas que visam ao lucro estão apenas preocupadas com o fazer técnico como se diz dos generais no item a. Mas certamente é verdade que elas estão engajadas neste propósito.


É verdade que o Planejamento Participativo é diferente do Planejamento Estratégico?

“Por supuesto!”, diriam nossos irmãos castelhanos. Todo este livro mostra isto.


Por que falar em Planejamento Participativo e não adotar, logo, o Estratégico?

Existem algumas definições do que é estratégia ou estratégico. Cito as três que são as mais destacadas, embora não me pareça que as três mereçam esta nomeação. Estratégico, segundo a literatura atual, é o:
·        importante;
·        pensado para o futuro;
·        tempero de tudo que se faz.
Quando se fala em Planejamento Estratégico, são as duas primeiras conotações que são principais, embora o terceiro item esteja necessariamente fazendo parte, pois é este o sentido primeiro da palavra. Ora, foi exatamente a construção de conceitos, modelos, técnicas e instrumentos que pudessem dar destaque ao que é importante e ao que se refere à construção do futuro o que sempre caracterizou marcadamente o Planejamento Participativo; foi, aliás, o Planejamento Participativo a maior influência para a produção de planos de médio prazo[4].
O terceiro significado é o mais adequado. Como todos sabem, o termo vem dos processos de guerra e refere-se ao modo de praticar as ações necessárias para vencer batalhas ou a guerra inteira. Importante: estratégias não indicam ações, mas o modo de levá-las a cabo. Por exemplo (embora o general vai me dizer que estas são “táticas” e que estratégias são mais amplas, do ponto de vista técnico, têm o mesmo modo de ser): vamos atacar à noite; avançar no maior silêncio possível...
É preciso deixar claro que o planejamento não é nem participativo nem estratégico – o que pode ser uma e outra coisa é o enfoque, a atuação de quem planeja. O Planejamento Participativo, aliás, depurou o conceito de Política como um princípio de ação, que vai ser realizado por um grupo de estratégias; fez isto, obviamente, para atender os usuários deste tipo de planejamento, as entidades sem fins lucrativos, tanto dos governos como as da sociedade civil que têm tais características.
Existe hoje uma disputa por espaço entre o Planejamento Estratégico e o Planejamento Participativo. É uma querela desnecessária porque cada um deles serve a entidades diferentes ou, pelo menos, cada entidade pode utilizá-los fixando uma hierarquia, definindo um para a globalidade e outro para o aproveitamento de algumas técnicas ou instrumentos. Além disto, é uma disputa bastante pouco parelha porque a literatura que trata do Planejamento Participativo é pequena em relação a do Planejamento Estratégico; além disto só instituições, movimentos e grupos que não visam em primeiro lugar ao lucro, mas que visam à construção da sociedade trabalham com ele e o planejamento nesse setor ainda não é suficientemente forte, toda a proposta não é suficientemente conhecida e então muitas vezes as instituições como escolas, igrejas, partidos políticos e órgãos dos governos que precisam de uma ferramenta bem diferente das empresas comerciais, industriais e de serviços. Como não conhecem uma instrumentação própria, utilizam o Planejamento Estratégico – e sempre mal porque não se dá atenção ao planejamento num mundo da pressa – sem dar-se conta que este não é uma ferramenta adequada para suas necessidades. Ora o Planejamento Participativo desenvolveu técnicas, instrumentos, modelos e, sobretudo, uma metodologia participativa própria para estas instituições e longe de diminuir a possibilidade estratégica, o modelo básico do planejamento participativo que inclui uma proposta de sociedade e proposta ideal do agir da instituição, ou do grupo ou do movimento termina tendo uma força estratégica extraordinária.
O Planejamento Participativo é, por essência, estratégico; desde o seu início, deu especial atenção ao aspecto estratégico da prática.
Atenção: há diferenças acentuadas entre o que se chama Planejamento Estratégico e o que passou a chamar-se Planejamento Participativo. Ambos podem ter um posicionamento estratégico. Visão estratégica se opõe a visão operacional. Há entidades e, sobretudo, ações dentro de todas as entidades que só necessitam, em seu planejamento, de um posicionamento operacional. É a execução de projetos em geral. Já existe, nestes casos, seja a decisão estratégica de executar tal projeto, seja a natureza daquela entidade, cuja ação exige apenas a execução de projetos. Os encarregados do projeto só necessitam estabelecer “como, quando, com quê, com quem...” vão executá-lo.




[1] É claro que, por tratar-se de uma comparação, devem ser feitas algumas adaptações. Mesmo assim, penso ser útil refletir sobre ela e buscar entender, assim, o planejamento no campo da educação, do governo, dos partidos, dos sindicatos, das igrejas... de movimentos e de grupos que queiram ter presença na construção social.
[2] Verapropósito,
[3] Quando falo em planejamento, para que possamos entender-nos melhor, faço a distinção - talvez alguém possa dizer que é divisão meramente didática - entre instituições formais permanentes, grupos que se formam a partir de uma ideia ou de uma causa e movimentos (muito parecidos com os grupos, mas sem a permanência deles porque as causas dos movimentos são passageiras). Aqui falo apenas em instituições. Só elas chegam a este estágio de querer manter-se, solucionando seus próprios problemas. Movimentos ou grupos desfazem-se antes de chegar a isto: quando cessa a causa, o movimento ou o grupo não continua existindo. Vale a pena ressaltar que empresas industriais, comerciais ou de serviços - instituições que primordialmente buscam o lucro - podem pensar fundamentadamente que sobrevivência e lucro se igualam.
[4]  Não falo em longo prazo porque, quando a cultura é de planejamento de curto prazo como em nossos países agora, não haveria muita utilidade em dar um salto tão grande; melhor subir um degrau de cada vez.

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