Poucos jornais e revistas publicam textos que proponham mudanças reais na escola. Debatem-se muito as questões periféricas, como família, avaliação, disciplina, matérias novas..., mas não se quer tocar o âmago da problemática: o currículo. Quer-se aperfeiçoar uma escola que "ensina" o que não tem sentido para não especialistas e que, portanto, não pode despertar o interesse; parece que o motivo de se fazer escola é domesticar as pessoas, através do sofrimento. Ora, quem não tem interesse não aprende nada.
Dificilmente consigo publicar textos como o que apresento abaixo. Peço que divulguem e, se algum jornal ou revista quiserem publicar, me avisem.
ESCOLA COMO CENTRO
CULTURAL
Sempre olho, às terças feiras, o caderno “Vestibular” do
Jornal Zero Hora. O assunto é relevante em nossa sociedade e, além dos
exercícios, o encarte apresenta boas dicas para manter a sanidade dos vestibulandos
e a de seus pais.
Numa das edições recentes, só para exemplificar, a
matéria tratada era a Química. As explicações e os exemplos de perguntas
falavam em “massa do soluto”, em “soluto iônico”, em “solutos moleculares” (que
são os que não sofrem “dissolução”), em “pressões osmóticas”, em “liofilização”,
em “sublimação da água”...
É claro que
não sou capaz, em geral, de resolver os exercícios deste caderno. Nem me
importo, porque os professores das universidades também não se classificariam
para serem alunos de um curso do qual são professores.
O que não
consigo entender é o que leva a universidade a fazer um vestibular deste tipo,
com a bênção do Conselho Nacional e do Ministério, ambos da educação!
Não, não sou contra o conhecimento nem contra especialistas!
Penso, até, que devemos ter mais cientistas – também mais poetas, músicos,
religiosos, professores... Devemos ser mais rigorosos nas pesquisas e nos
processos de passagem e de construção do conhecimento, para que o País cresça
em todos os aspectos e seja respeitado pelo saber que cria e que difunde. Só
não entendo duas coisas: por que as escolas são constrangidas a deixar de lado
toda a riqueza do conhecimento de hoje e por que fingem que estão
especializando crianças e adolescentes. O conhecimento se amplia de modo
fantástico, mas as escolas, por causa do vestibular, são levadas a passar um
conhecimento formal, limitado a cinco disciplinas, e a “ensinar” macetes
“especializados”, para entrar na universidade.
A escola de ensino básico nasceu, quando as sociedades se
tornaram mais complexas, para ajudar as famílias no processo de educação de
seus filhos; o sentido disto sempre foi ajudar os que nasciam a integrar-se na
cultura em que chegavam. Este educar-se – integrar-se na cultura – significou,
sempre, construir sua própria identidade e apropriar-se de instrumentos para
participar nesta cultura.
Obviamente,
este educar-se sempre teve, como critério, os traços marcantes da cultura onde
estava a escola. Não existe educação no vazio: para brasileiros, ela tem que
ser brasileira; para coreanos, coreana; para o século dezenove, ela pôde ser
dependente do conhecimento que o professor trazia – havia poucas fontes de
informação; para o século vinte e um, ela pode e deve ser um centro de cultura.
Quais elementos
da cultura (conhecimentos, habilidades, crenças, costumes, valores...) são
úteis para ajudar crianças e adolescentes a se educarem, isto é, a construírem
sua identidade e a dominarem instrumentos para participar nesta cultura? Esta
tem que ser a pergunta básica para as escolas e para os conselhos de educação.
A resposta é o currículo, um tesouro de onde professor (um por turma) e alunos vão
retirar a matéria para tratar nas aulas de maneira transdisciplinar. Não é
necessário que cada aluno viva cada item dele: mais do que uma lista, ele será
um projeto pedagógico, naturalmente assentado sobre um ideal político (a visão
do ser humano e da sociedade que se quer construir).
Nenhum comentário:
Postar um comentário