segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

ESCOLA - CENTRO DE CULTURA


Poucos jornais e revistas publicam textos que proponham mudanças reais na escola. Debatem-se muito as questões periféricas, como família, avaliação, disciplina, matérias novas..., mas não se quer tocar o âmago da problemática: o currículo. Quer-se aperfeiçoar uma escola que "ensina" o que não tem sentido para não especialistas e que, portanto, não pode despertar o interesse; parece que o motivo de se fazer escola é domesticar as pessoas, através do sofrimento. Ora, quem não tem interesse não aprende nada.
Dificilmente consigo publicar textos como o que apresento abaixo. Peço que divulguem e, se algum jornal ou revista quiserem publicar, me avisem.
 

ESCOLA COMO CENTRO CULTURAL
                                                                                   
            Sempre olho, às terças feiras, o caderno “Vestibular” do Jornal Zero Hora. O assunto é relevante em nossa sociedade e, além dos exercícios, o encarte apresenta boas dicas para manter a sanidade dos vestibulandos e a de seus pais.

            Numa das edições recentes, só para exemplificar, a matéria tratada era a Química. As explicações e os exemplos de perguntas falavam em “massa do soluto”, em “soluto iônico”, em “solutos moleculares” (que são os que não sofrem “dissolução”), em “pressões osmóticas”, em “liofilização”, em “sublimação da água”...

É claro que não sou capaz, em geral, de resolver os exercícios deste caderno. Nem me importo, porque os professores das universidades também não se classificariam para serem alunos de um curso do qual são professores.

O que não consigo entender é o que leva a universidade a fazer um vestibular deste tipo, com a bênção do Conselho Nacional e do Ministério, ambos da educação!

            Não, não sou contra o conhecimento nem contra especialistas! Penso, até, que devemos ter mais cientistas – também mais poetas, músicos, religiosos, professores... Devemos ser mais rigorosos nas pesquisas e nos processos de passagem e de construção do conhecimento, para que o País cresça em todos os aspectos e seja respeitado pelo saber que cria e que difunde. Só não entendo duas coisas: por que as escolas são constrangidas a deixar de lado toda a riqueza do conhecimento de hoje e por que fingem que estão especializando crianças e adolescentes. O conhecimento se amplia de modo fantástico, mas as escolas, por causa do vestibular, são levadas a passar um conhecimento formal, limitado a cinco disciplinas, e a “ensinar” macetes “especializados”, para entrar na universidade.

            A escola de ensino básico nasceu, quando as sociedades se tornaram mais complexas, para ajudar as famílias no processo de educação de seus filhos; o sentido disto sempre foi ajudar os que nasciam a integrar-se na cultura em que chegavam. Este educar-se – integrar-se na cultura – significou, sempre, construir sua própria identidade e apropriar-se de instrumentos para participar nesta cultura.

Obviamente, este educar-se sempre teve, como critério, os traços marcantes da cultura onde estava a escola. Não existe educação no vazio: para brasileiros, ela tem que ser brasileira; para coreanos, coreana; para o século dezenove, ela pôde ser dependente do conhecimento que o professor trazia – havia poucas fontes de informação; para o século vinte e um, ela pode e deve ser um centro de cultura.

Quais elementos da cultura (conhecimentos, habilidades, crenças, costumes, valores...) são úteis para ajudar crianças e adolescentes a se educarem, isto é, a construírem sua identidade e a dominarem instrumentos para participar nesta cultura? Esta tem que ser a pergunta básica para as escolas e para os conselhos de educação. A resposta é o currículo, um tesouro de onde professor (um por turma) e alunos vão retirar a matéria para tratar nas aulas de maneira transdisciplinar. Não é necessário que cada aluno viva cada item dele: mais do que uma lista, ele será um projeto pedagógico, naturalmente assentado sobre um ideal político (a visão do ser humano e da sociedade que se quer construir).

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